sábado, 26 de outubro de 2013

O mundo é uma lasanha congelada

O mundo é uma lasanha congelada.

Eu adoro lasanha congelada. É rápido, barato, fácil de fazer e gostoso. Perfeito pra estudante, que ta sempre fazendo tudo e nada ao mesmo tempo e acaba sem tempo pra ver tudo ou fazer nada. Ou comer lasanha de forno.
Lasanha congelada de microondas. Sabe qual o problema dela? Ela é gostosa, ela quebra o galho. Mas ela não é nenhuma lasanha de forno, feita pela avó.

Não me entenda errado, se a lasanha congelada substituiu a lasanha de forno no mundo, é porque seu custo-benefício é melhor. É porque o mundo funciona melhor a base de lasanha congelada. Melhor do que funcionava com a de forno. Sou um fiel defensor da teoria de que o mundo produz e consome a melhor lasanha que é capaz. Se não temos uma lasanha melhor é porque não somos capazes de produzir uma ainda. E se não temos mais a antiga, é porque a nova é melhor. É assim que o mundo funciona.

E veja só: porque não temos mais lasanha de forno? Porque não vale a pena, não para o mundo que a gente vive. Imagine uma equação: o gosto da lasanha é X, o tempo de preparo é Y e o resultado é Z. É uma soma a equação, viu? Aí você pega o gosto e subtrai 3, mas adiciona 10 no tempo. O resultado é melhor. Z é melhor com lasanha congelada porque ganha mais na comodidade do que perde no sabor. Entendeu?

E aí tudo bem, ok, ok, a lasanha congelada só existe porque ela se sobressaiu a lasanha de forno, já aceitamos isso. E se sobressaiu porque nós preferimos. E nós preferimos porque nós mudamos nosso estilo de vida, de forma que não temos mais tempo para lasanha de forno. Mas fomos nós que decidimos mudar nosso estilo de vida, nós que concluimos que vale mais a pena comer uma lasanha rápida e menos gostosa do que esperar a lasanha de forno ficar pronta. Se ta aí é porque tem que estar, é porque funciona.

Mas as vezes da saudade da lasanha de forno. Acho que é isso que eu quis dizer com essa receita toda. A gente prefere a de microondas, a gente prefere comer andando, garfando comida de uma caixa colorida de papelão, a caminho do trabalho, da balada, da faculdade. A gente prefere o sabor encaixotado e padronizado, o prazer rápido embalado a vácuo e cheio de conservantes. Mas a gente olha pra trás as vezes, e lembra do cheiro da lasanha de forno. Lembra de sentar na mesa, jogar conversa fora, tomar um vinho, esperar a vida passar devagar enquanto a lasanha fica pronta, sem checar atualização de Facebook no celular. A gente lembra de não precisar  mostrar a foto da lasanha com filtro de foto antiga pros amigos. E da uma saudade, daquilo que ficou obsoleto, que não vale mais a pena. Daquilo que ficou no ferro velho do mundo: nossas lasanhas de forno, nossos filmes com menos efeitos especiais e mais roteiro, nosso Pogobol, nosso Genius, nosso Pense Bem. A gente sente falta de folhear o livreto que vinha com o CD, de ver a capa do vinil na loja. A gente sente falta do que não vale mais a pena. A gente sente falta.

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