domingo, 23 de janeiro de 2011

De Sonhos Mal Acabados

Resolvi assistir a uns vídeos de minha infância. Minha tia, abençoada seja, comprou uma câmera lá pelo começo dos anos 90 para documentar os momentos de família daquela nova geração que acabava de ter filhos. Duvido que imaginasse que aquele menino cabeçudo e inquieto dos vídeos um dia ia pedir essas gravações emprestadas, buscando, no seu passado, a resposta para seu futuro. Pois minha tia, sem saber, documentou também os primeiros anos de minha vida. Mas eu peguei os vídeos e levei-os para casa. E voltei no tempo por uns segundos. Vi a casa de minha bisavó, que tinha um balanço complicado de montar, em que eu costumava brincar. Vi meu primo, hoje com 30 anos e trabalhando de gravata, inseguro e sorridente, do alto de seus doze anos. Vi meus pais, hoje tão distantes, dividindo um mesmo cômodo, nos olhos uma despreocupação que há muito tempo foi levada pelas responsabilidades da vida. Vi minhas bisavós, hoje falecidas, olhando ainda fascinadas para o mundo em volta, como o mesmo ar que olharam para este país ao chegar aqui no começo do século, em busca de sonhos e uma vida melhor. E, no meio disse tudo, me vi. Uma criança. Um menino de nem dois anos, andando meio atrapalhado, rindo de tudo.
Olhei bem nos olhos dele. Ele olhou bem nos meus. 1991 e 2010 separados por uma velha câmera. Eu pude quase sentir sua presença, perto de mim. Quem me dera! Teria tanto para lhe dizer.
E não me importa mais essa vida agora. Não me importa mais mil e uma desgraças que me aconteçam ou qualquer infelicidade que venha bater a minha porta. Não me importa, porque eu sei que, em alguma gaveta, em algum armário empoeirado, está lá. Esse pedaço de existência congelado no tempo. Um universo paralelo onde tudo é lindo e a vida é simples. Um mundo onde eu sou para sempre uma criança, sorridente e cabeçuda. Um mundo onde minhas bisavós ainda vivem. Um mundo onde meus pais ainda se amam. Um mundo onde meu primo ainda tem doze anos. Um mundo onde aquele velho balanço que ninguém sabia montar está lá. E quem vai dizer que não é real?
Você é feliz, menino Cesar. Para sempre. Divirta-se. Deixe as preocupações e as tristezas da vida para mim. Deixa comigo que eu cuido de tudo. Brinca com tuas bisas, corre pela casa. Curte tua família unida. Deixa o resto comigo. Estou aqui para cuidar de ti.