terça-feira, 29 de novembro de 2011

Eu Vou Guardar

Teu sorriso congelado
No porta retrato
Eu vou guardar
E ninguém pode tirar de mim

O teu beijo, teu olhar
Teu jeito louco de me amar
Eu vou guardar
Bem perto de mim


Aquele jeito de você se arrumar
Na frente do espelho, mexendo no cabelo
Na ponta do pé direito

Aquele jeito de você me olhar
Com a cabeça de lado, O seu rosto apoiado
Em cima do meu peito

Eu vou guardar
Vou guardar as tuas cartas
Tuas broncas tuas mágoas
Tuas mãos perto de mim

Eu vou guardar
Vou guardar a tua lembraça
Vou deixar ela de herança
Para quando eu for feliz

Um olhar desajeitado
Um pouco sério, um tanto ousado
Eu vou guardar
E ninguém pode tirar de mim

Aquela marca no teu braço
E quando você me deu um abraço
E avisou
Meu amor, meu amor chegou ao fim

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Vai Chover

Vai chover.
Não importa o quanto pareça bom o tempo agora, não importa o quanto o sol esteja brilhando. Vai chover.
E a chuva vai te derrubar, vai te levar ao chão, ao meio fio, largado, ensurdecido pela percussão das gotas pela cidade, em cada beco, em cada esquina, em cada lata de lixo.
E aí você vai olhar pra trás. Não se engane, você vai. Para os dias de sol, para as primaveras e os verões, com aquele olhar triste de velhos atores de cinema, aquele olhar dos adultos, e você vai ter que saber lidar com isso e fingir que está tudo bem. E você vai descobrir que está crescendo. E vai descobrir uma porção de outras coisas também.
Vai descobrir que as pessoas passam por você, nesse mundo louco, deixando às vezes um sorriso, um jeito especial de te olhar, um aperto de mão, uma ligação perdida no celular. Um momento que poderia mudar tudo. E você vai pegando essas coisas e levando com você, e vai demorar pra descobrir o quanto elas pesam, no final.
E você vai descobrir que é difícil. É difícil carregar tudo nas costas. Às vezes da vontade de desistir. Às vezes, desistir é o caminho certo. Às vezes não.
Vai descobrir que existe beleza em qualquer coisa que colocamos os olhos. Uma lembrança, uma possibilidade, um momento que nunca aconteceu. Mas deixa eu te contar um segredo: A felicidade que você tem que buscar, a que vai mudar sua vida, aquela que implora dentro de você para ser encontrada, não é na luz do dia que você vai encontrar. No sol não se esconde nada. São os cantos escuros e chuvosos, nos momentos em que você só quer uma cama quente e um abraço, quando ninguém mais está do seu lado. É aí que ela vai aparecer. E você tem que estar preparado, senão vai perder o momento. Aquele brilho no meio da madrugada, aquele pontinho de luz, pode ser mais, muito mais que um farol de carro. Pode ser tudo aquilo que você estava procurando.
Você vai descobrir que pode um dia subir no trem da meia noite, e cruzar a madrugada, vendo o mundo passar na janela feito tela de cinema. Você pode achar o amor da sua vida, e escrever coisas engraçadas na areia da praia, deixar dois nomes numa árvore, embrulhados em um coração. Você pode desistir de tudo, viver de gorjeta em um bar de esquina, improvisando memórias em um velho violão. Você pode ser artista, pintar gordos rostos de turistas em Montmartre, reclamando do outono de Paris. Você pode.
Vai descobrir que tudo, absolutamente tudo, é pequeno demais para se importar. Os demônios e as quimeras são brinquedos de madeira, você vai ver. As coisas que realmente importam vão surgir, aos poucos, e você pode ficar surpreso. Pode ser algo que você nunca deu importância, algo que você estava preocupado demais para colocar seus olhos, para perceber. Pode ser alguém. Pode ser qualquer coisa. Mas isso também é pequeno demais.
Você vai descobrir que não existe nada no fim do arco-íris. E é aí, quando você chegar, cansado e esgotado, no fim da estrada de tijolos amarelos, e descobrir que ali não tem nenhum pote de ouro, é aí que você vai ver que o tesouro eram as cores no céu, era esse grande arco que você seguiu até aqui. E nenhum ouro do mundo vai te deixar tão feliz quanto isso.
Mas, acho que, mais do que tudo, você vai descobrir que essa chuva, que pinta a cidade toda de cinza, que te gela até os ossos e te leva até o chão, também carrega tudo lá pra longe, e, um dia, em pouco tempo, você vai levantar os olhos pro céu e vai ver que o sol apareceu. E aí, quando você baixar o olhar a sua frente, vai ver que a cidade não é mais a mesma. Vai ver que a chuva levou um monte de coisas embora, e trouxe coisas novas também. Só que ninguém notou. E é engraçado, porque assim de uma hora pra outra, você percebe que o maior dos temporais pode ter acontecido só dentro de você.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Vaga-Lume

São pequenos lapsos de insanidade, ou um olhar mais demorado em direção ao infinito. Qualquer coisa de fora do comum, na verdade.
Uma prosa mal escrita em um momento de tristeza, talvez.
Mas a vida é, no fim das contas, isso mesmo. Os breves momentos de clareza e lucidez, que não podem ser capturados, como pequenos vaga-lumes atravessando a noite lá longe. Você pode vê-lo, mas não pode tocá-los. Ou uma stripper barata, que funciona da mesma forma que o vaga-lume.
Porque, afinal de contas, ninguém sabe o que esta fazendo nessa festa aqui. Tem espaço pra todo mundo, bastante bebida, tristeza, um pouco de magia, sorrisos, traições, livros e ligações perdidas no celular. Tem alegria também, tem tudo isso. Mas a gente precisa desses pequenos vaga-lumes, porque a verdade é que não é aniversario de ninguém. Não é um casamento, bodas ou despedida de solteiro. E chega uma hora na festa em que você quer conhecer o dono da casa, quer saber quem ta pagando por isso tudo, e aí é chato, porque todo mundo é amigo de amigo de alguém, e ninguém sabe muito bem o que ta acontecendo.
Mas é nessa hora que você se apóia naquele canto só seu, com um copo de bebida na mão e aquela tristeza que é só sua e de mais ninguém, e você vê. Ali, do lado de fora da janela, perto do mato escuro e da estrada, aquele pontinho iluminado. Mas nem tenta chegar perto, não dá. Ele rodopia um pouco, faz que vai entrar pela janela (as vezes até entra, mas fica pouco tempo) e vai embora, e você não sabe se ele vai voltar.
Mas não fica assim não, limpa esses olhos, levanta essa cabeça. Porque o mais legal de tudo é que, quando ele apareceu brilhando no escuro, quase ninguém viu. Tinha gente ali, do lado dele, conversando e dando risada e assinando papéis de divórcio, e você lá de longe é que viu o vaga-lume. E é legal pensar nisso, pô. Só não tenta ir lá fora e alcançar ele. Você pode vê-lo, mas não pode tocá-lo. Como uma stripper.
E não tem porque não aproveitar a festa, também, né? Já que você ta aqui...
O legal (mas também é triste, se você parar pra pensar) é que todo mundo vai embora uma hora. E ta sempre chegando mais gente também. Mas aí, quando chega sua hora e você se vê caminhando em direção a porta, e você não faz idéia do que tem ali fora, porque você nem lembra como chegou na festa, você lembra do vaga-lume. E tem muita gente que vai embora sem saber do vaga-lume, e isso deve dar medo pra caramba. Mas você ta ali, girando a maçaneta, pronto pra sair, o suor escorrendo pelo canto do rosto. E aí vem aquele sorriso no seu rosto, porque você sabe o que você viu.
Você sabe, ao abrir a porta e dar de cara com esse infinito escuro e vazio que é o outro lado, que em algum lugar ali no meio dessa imensidão, rodopiando e indo pra lá e pra cá, tem um pontinho de luz voador, e, quem sabe fora da festa, a gente não consegue encostar nele e ver do que ele é feito?