terça-feira, 26 de novembro de 2013

Bem Casado

A felicidade, diferente de Luis XIV, não é um estado. É uma condição.
Desconfie de quem fala que é feliz. Ninguém é feliz. As pessoas são bem humoradas, contentes, aventureiras, otimistas, satisfeitas, mas não são felizes. Estão felizes, nesse ou naquele momento. É o máximo que se pode dizer sobre a felicidade (além do fato de ela ser como a pluma, que o vento vai levando pelo ar. Voa tão leve mas tem a vida breve, blá, blá, blá, etc e tal).
A felicidade é expectativa e conquista. Não muito diferente do bem casado de festa de formatura. Você já reparou no bem casado de festa de formatura? Repare, é um estudo existencialista fenomenal.
Sempre que uma festa de formatura oferece bem casado, os convidados se transformam. O bem casado, como a guerra e a tequila, transforma as pessoas. Ninguém mais está ali para celebrar os filhos, os namorados ou os professores. Todos tem uma missão em comum: conseguir bem casados.
As pessoas vão atrás do garçom. “Opa, da licença, tudo bom? Hehe. Deixa eu pegar um aqui pra minha esposa também, ela adora.” A esposa do sujeito morreu faz doze anos. Mas não importa. Vale tudo na hora do bem casado.
Então, recapitulando: felicidade é expectativa e conquista. Você quer um bem casado. Você vai atrás do garçom, pega um bem casado.BAM. Felicidade.
A questão é: o bem casado acaba. E você tem que ir atrás de outro. E outro. E outro. E o tempo entre o fim de um bem casado e o começo de outro é a expectativa, o trabalho. Até tem felicidade aí no meio, na perspectiva do próximo bem casado, mas, no geral, esse período entre bem casados é tempo morto..
E aí você pergunta: e se eu parar de gostar de bem casado? Bom, aí entram duas coisas: primeiro que não gostar de bem casado é coisa de gente mau caráter. Segundo que é difícil. É difícil porque bem casado é uma delícia.
Mas e aí, vamos supor que você consiga. Pronto. Você não gosta mais de bem casado. O que você faz agora na formatura?
Nada. Você não faz nada. Você alcançou algo muito mais importante que a felicidade. A plenitude. A plenitude, diferente da felicidade, não é estado. É condição. Você pode ser pleno para o resto da vida. É só parar de comer bem casado.
No fundo a vida é isso: uma eterna escolha entre a plenitude e a felicidade. E, a partir do momento em que você percebe que ela (a vida) é transitória, não faz sentido se apegar. Não faz sentido se apaixonar pelo que é finito.
É por isso que a vida em busca da felicidade é sofrimento. Porque nenhuma felicidade é felicidade mesmo quando vive sob a sombra do fim. Nenhum bem casado é tão doce quando você sabe que ele vai apagar. Você se apega, se apaixona, se lambuza no bem casado, mas aí vem a crise existencial: meu deus, já são quase duas horas. Os garçons já pararam de passar. Os bens casados estão acabando! E agora?
BAM. Tristeza. Sofrimento. O bem casado só é bom porque é ruim, e só é ruim porque é bom. Se fosse sempre bom, seria plenitude. Se fosse sempre ruim, não apaixonaria, e, portanto, não traria sofrimento.
No fim das contas você não precisa parar de gostar de bem casado. O que você precisa é entender os prós e contras de se viver uma vida a procura deles ou não. Aí você pode fazer uma escolha sensata, em vez de sair por aí comendo tudo o que você vê sem parar pra pensar nas consequências.
Ou isso ou você procura a receita de um bem casado infinito. Se você encontrar, me liga. Pfvr.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Menina

Pra onde é que eu posso ir
Se nos bares da esquina
Onde a gente bebia e chorava de rir
Eu só lembro de ti, menina

O que tem pra fazer?
Se todos os filmes que eu queria ver
Eu prometi assistir com você
O que tem pra fazer sem você, menina?

Se já procurei todo restaurante, toda festa
Todo boteco, teatro e cantina
Um espaço que não seja teu, pra chamar de meu
Um lugar sem você, menina

Se no meu quarto vejo teu corpo na cama
Teu rosto no porta retrato, teu cheiro no cobertor,
No vapor do espelho tuas juras de amor

Se na minha agenda teu nome ainda é o primeiro
Tuas ultimas palavras ainda tenho guardadas
No bilhete que achei esquecido em cima do travesseiro

Que música ainda tenho pra ouvir?
Se já procurei no meu repertório inteiro
Uma valsa que eu não tenha valsado contigo primeiro

E que mulher eu vou achar agora
Entre uma e outra esquina
Se me engasga a palavra na garganta, e sempre me espanta
Que é só tu que consigo chamar de menina

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Indiferença



Ele olhava para o céu, e o céu olhava de volta.
Ele aprendeu a dar nome às estrelas, mas isso foi há muito tempo. Primeiro as que estavam mais perto, com nomes dos deuses dos antigos. Júpiter, Vênus e Mercúrio. Depois as que estavam mais longe, mas que, por algum motivo que ele não entendia quando era novo, brilhavam mais: Alderaban e Antares e Proxima Centauri.
Ele olhava para o céu, e o céu olhava de volta. Por tanto tempo dividiram juntos esse espaço de existência, ele e Júpiter e Vênus e Antares e todas as outras coisas que brilhavam. “Todo esse tempo juntos e eu ainda não te conheço”, pensou ele, triste. Havia enfrentado tanta coisa, tanto tempo, tanto, tanto tempo sozinho naquele lugar, sem ninguém nem nada para fazer, senão contar, contar, contar. Contar todas as coisas que brilham no céu.
O montinho de terra em que se equilibrava andava, girava, passeava solto. Ou pelo menos era isso que ele achava. Foi triste descobrir que só estava dando voltas no mesmo lugar. Para sempre, para sempre girando no mesmo eixo, vendo o mesmo cenário se repetindo, até o fim.
Inventou um monte de nomes. Gravidade, Eletromagnetismo, Força Fraca, Força Forte, Átomo, Buraco Negro, Neutrinos. Tentando se aproximar, tentando entender. Mas era como dar apelidos para um amante platônico. Era como tentar imaginar como pensava, agia e falava uma paixão colegial que nunca lhe deu bola.
Era estranho. Tudo o que queria era um pouco de afeto, um pouco de compreensão. Reconhecimento. “Ei! Eu estou aqui, nessa bola azul! Me perceba! Me perceba! Eu percebo você!”. Estranho que um lugar tão cheio de sistemas binários e anãs brancas e supernovas possa ser tão frio.
“E você vai continuar aqui”, pensava ele enquanto olhava para o céu, e o céu olhava de volta. “Eu cheguei, me apresentei, perguntei seu nome, te olhei de perto, me aproximei, me apaixonei, e daqui a pouco já vou embora. E você vai continuar aqui, e nem ficou sabendo de mim. Não se deu ao trabalho de ao menos me mandar calar a boca”.
Ele voltou o rosto para baixo, pronto para deixar o céu em paz. Sozinho, sempre sozinho naquele vazio. Não adiantava chutar, gritar, espernear. Mas ele queria ser reconhecido, só isso. Queria ser notado, queria provar, nem que fosse só para ele mesmo, que existia.
Soltou o graveto e caminhou para longe, deixando para trás as palavras gravadas na terra: “O ser humano esteve aqui. Aqui ele nasceu, cresceu, se alimentou, riu e chorou. Sem que ninguém percebesse ele viveu, observou, se encantou, fez perguntas e morreu. Mas ele esteve aqui”.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

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Ae ganhei uma garrafaa de tequila! #obrigadoamor #euteamo #4ever
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Já passou das 22 pode beber né? Rsrs #alcoolismo
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Tem muita gente legal no meu face, e muita gente que eu não gosto também. #verdade
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@amor, adorei a tequila, é uma delícia!
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HAHAHA EU TENTEI TE MARCAR COMO @AMOR, AMOR! #burro
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Nossa, vocês já pararam pra ouvir o hino brasileiro? Tipo, ouvir meeeesmo? É lindo. #patriota
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Só tem filho da puta nesse face.
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É, na hora que a massa esquenta todo mundo quer panqueca, né? #safados #foraDilma
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@marcelo_doido NÃO DESLIGA NA MINHA CARA, FILHO DASD PUTA!! TU NÃO É BRODER! #nãoébroder
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As vezes eu penso em todis trumpfl palks bufalos. #conspiração #olhodepeixe
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Desculpa, @marcelo_doido, eu exagerei. #cuzão #patriota
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@ONU E se a gente colocasse os desempregados pra trabalhar plantando comida pra dar pros que passam fome? #solução #mundomelhor #bonovox
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@amor VOCÊ ESQUECEU DO MEU ANIVERSÁRIO! CADE MEU PRESENTE, CACHORRA? #vagaba #saidaminhavida #bochechasemclaudinho
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Vixe. #avião
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ONDE EU TO PORRA? #medo #freeshop #nessabumbaeunaoandomais
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SÉRIO ALGUÉM ME AJUDA! #aterrorizado #janelinha
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@marcelo_doido sério memo cara, me perdoa. to mto arrependido. vou te ligar. #frodoesam
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Para esse dia das bruxas, a bailarina resolveu se vestir de dona de casa.

Todo mundo saiu assustado quando viu a menina de cabelo enrolado, um olhar meio cansado, guardando o esfregão, esperando o marido chegar do bar, o telefone na orelha em uma mão, na outra uns calos e um esfregão.  

super-herói foi pro baile de executivo ressentido. Queria ter sido escultor, a faculdade levou pra outro caminho, hoje em dia é gerente que quer ser diretor, gosta muito de queijo e de vinho, dorme em lençol de linho e não chama mais a esposa de amor. 

O jogador de futebol se vestiu de menino de rua. Fingiu que não tinha gingado na perna, nem uma casa moderna e nem um bairro nobre pra ver da janela. Fingiu que a sorte nunca o tirou da favela.  

E a atriz de novela? Foi de gordinha sem amigos. Se vestiu de uma pessoa legal, sem nada de muito especial. Por dentro é um amor, mas a fantasia espanta só da aparência que tem no exterior. Fingiu que não era bonita, não tinha jeito, não falava direito. Grudou na fantasia um monte de defeito. Fingiu que não tinha o corpo perfeito. 

O namorado foi de coração colado. Ninguém sabia do término e que ela já estava com outro, um amigo da escola. Juntou durexsuper bonder e cola. Grudou o coração. Já tem uma lista de mulheres pra tentar outra paixão. Apareceu no baile vestido de superação. 

E a bruxa, o vampiro e o esqueleto estavam todos de preto. Sombrinha, terno, óculos e roupa de inverno. Um olhar sério e um andar lento, um jeito de quem já não tem tempo. De que a vida passou e sobrou o escritório e o vale-alimentação. Foram vestidos do fim das fantasias e das brincadeiras e de começo da vida adulta. Foram vestidos para folhear catálogos de decoração, não gostar de multidão e reclamar da inflação. Foram de velório da imaginação. 
Para esse dia das bruxas, a bailarina resolveu se vestir de dona de casa. Todo mundo saiu assustado quando viu a menina de cabelo enrolado, um olhar meio cansado, guardando o esfregão, esperando o marido chegar do bar, o telefone na orelha em uma mão, na outra uns calos e um esfregão.
O super-herói foi pro baile de executivo ressentido. Queria ter sido escultor, a faculdade levou pra outro caminho, hoje em dia é gerente que quer ser diretor, gosta muito de queijo e de vinho, dorme em lençol de linho e não chama mais a esposa de amor. O jogador de futebol se vestiu de menino de rua. Fingiu que não tinha gingado na perna, nem uma casa moderna e nem um bairro nobre pra ver da janela. Fingiu que a sorte nunca o tirou da favela.
E a atriz de novela? Foi de gordinha sem amigos. Se vestiu de uma pessoa legal, sem nada de muito especial. Por dentro é um amor, mas a fantasia espanta só da aparência que tem no exterior. Fingiu que não era bonita, não tinha jeito, não falava direito. Grudou na fantasia um monte de defeito. Fingiu que não tinha o corpo perfeito.
O namorado foi de coração colado. Ninguém sabia do término e que ela já estava com outro, um amigo da escola. Juntou durex, super bonder e cola. Grudou o coração. Já tem uma lista de mulheres pra tentar outra paixão. Apareceu no baile vestido de superação.
E a bruxa, o vampiro e o esqueleto estavam todos de preto. Sombrinha, terno, óculos e roupa de inverno. Um olhar sério e um andar lento, um jeito de quem já não tem tempo. De que a vida passou e sobrou o escritório e o vale-alimentação. Foram vestidos do fim das fantasias e das brincadeiras e de começo da vida adulta. Foram vestidos para folhear catálogos de decoração, não gostar de multidão e reclamar da inflação. Foram de velório da imaginação.