segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Oito Minutos

O sol apagou, e daqui a oito minutos a Terra vai perceber. Mas ninguém avisou a Tereza, que passou a manhã inteira arrumando a mesa e cortando batata pra fritar, porque os netinhos estavam a caminho pra almoçar.

Agora que o sol apagou pra nunca mais voltar, em oito minutos a Terra vai parar de girar. E coitado do Tobias, que não sabia disso, hoje mais cedo, quando fazia o vestibular. Caiu na questão vinte e oito alguma coisa sobre velocidade, e ele chutou que a da luz era mais rápida que a da gravidade. Não vai entrar na faculdade.

Agora que a Terra vai acabar, o Orestes não precisava nem se preocupar em furar a fila do mercado. E, olha só que bom, ele não sabe ainda, coitado, mas em sete minutos o banco vai esquecer do carro com o pagamento atrasado.

A tia Elvira anda meio cabisbaixa, cansada de trabalhar no caixa, passando de um lado pro outro, sem nem parar pra pensar, um monte de coisa do mercado que ela não tem dinheiro pra pagar. Quando deu duas e meia, passou no banheiro, jogou água no rosto, se viu no espelho com cara de desgosto e se achou meio feia. “O dia continua, e amanhã vem mais um” pensou, olhando pela janela, e a luz do sol finado só brilhava lá de fora, fingindo que não era com ela.

O Cruzeiro jogava com o Atlético, na final do campeonato, enchendo o Mineirão. O jogo começou meio lento, mas aos vinte do segundo tempo teve gol de cabeça do Fabião. Já dava o sexto minuto do começo do final quando a torcida se juntou feito coral e já gritava é campeão.

No sétimo minuto e meio (quando até o goleiro do Cruzeiro foi pra área tentar o escanteio) um menino corria pela praia, assoprando bola de sabão. Olhou pra frente e viu o mar, se jogou na areia pra ver onda arrebentar. Sete e cinquenta e três fechou os olhos pra bocejar. Pensou, sete e cinquenta e sete, se a mãe ia pedir pizza pra jantar.

Tomara que sim.