domingo, 27 de dezembro de 2009

20 anos

Meu lugar já não é nos parques
Nem nas ruas ou nos bares
Já não tenho namoradas
Faço amor com meu emprego
E minhas contas atrasadas

Já não ouço mais a musica
Com êxtase ou prazer
Ouço o som do meu passado
Na melodia, ocupado
somente em esquecer

Não posso mais sorrir
De minha própria ignorância
Não posso mais chorar
por saber vão acabar
As memórias da infância

Que vai ser desse menino?

Esse menino que foge
Da garra do mundo que avança
Assutado, com medo
De saberem, em segredo
Que é ainda uma criança

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009


1984

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

The Boy Who Saw The World in Black and White



Nobody knows how long he was trying to hide
The pain that now they know he felt inside

All they say is "he was such a happy boy"
It always seemed his eyes were filled with joy

And he always knew that they could never know
For they would never understand his world


Nobody knows how long he was trying to fight
The boy who say the world in black and white


Everyone would talk about the big blue sky
He'd just blink his eyes and wonder why

So red the roses in his backyard grew
He never found out, if he only knew

They found the dreams he painted in his room
And a paper where he wrote "I'll see you soon"

He always knew that something was not right
The boy who say the world in black and white

Nobody knows how long he cried that night
The boy who say the world in black and white

He used to say he loved to walk at night

The boy who say the world in black and white

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O Para-Brisa

Ele já saiu do carro gritando:
-Você não viu a seta?Eu estava dando seta!
O outro se defendia.
-Não olha no retrovisor?
-Eu dei seta!Você que devia ter olhado!Eu não acredito nisso.
Vestia uma camisa branca, divida pela gravata mais sem graça do mundo. Aquilo era um pesadelo.
-Como você me muda de faixa sem olhar no retrovisor? – O outro não deixava por menos.
-EU DEI SETA, CRISTO!
O carro amassou atrás, nada sério, porém ia ser caro concertar. Passou a mão pelo cabelo grisalho e virou-se para trás, inconformado.
O pára-brisa do carro estava ligado, apesar do sol que fazia. Pra frente, pra trás, pra frente, pra trás, num movimento eterno, ignorando a gritaria, o trânsito, tudo ao seu redor. Ele parou por um segundo e olhou aquela cena, e, de repente, viu-se perdido em memórias.
Era de noite e chovia muito. Ele tentava dormir no banco de trás do carro. Só iam chegar à cidade de manhã. Ele, seu pai e sua mãe, que dormia no banco do passageiro com a cabeça apoiada na janela. De olhos fechados, ele sonhava os sonhos que, quando criança, inundam nossa mente, mas que fogem envergonhados quando crescemos, para nunca mais voltar. Ouvia o barulho do pára-brisa, pra frente, pra trás, pra frente, pra trás, hipnótico como o pêndulo de um velho relógio que vira certa vez na casa de um tio-avô distante. Abria os olhos, vez ou outra, e via, de relance, lampejos da estrada que corria para trás. Florestas escuras de pinheiros, sombrias, assustadoras, fascinantes. Decidiu ali que queria ser explorador, quando fosse grande. Iria desbravar as matas mais escuras e descobrir as praias mais belas, vestindo um chapéu e uma jaqueta de couro. Iria dormir nos campos, esquentar comida na fogueira.
“-Pai, quando eu crescer, quero ser explorador.”
“-Explorador? Igual ao dos filmes?”
“-Isso. Igual o dos filmes.”
Deitado, dormiu, ouvindo o som do pára-brisa, e dormindo, sonhou com tudo aquilo que ia fazer quando fosse grande. No sonho conheceu terras distantes e inexploradas, caçou animais exóticos que homem nenhum tinha visto antes, cruzou rios e subiu montanhas, sempre de chapéu e de jaqueta. O pai pensou, com tristeza, que o menino ia descobrir um dia que esse mundo, que parece tão grande quando somos pequenos, é pequeno e sem graça, e que nele não sobrou nada que valha a pena explorar. O pára-brisa continuava, pra frente, pra trás, pra frente, pra trás.
-Você tem seguro?
Aquele mundo, que se estendia infinito atrás da janela do carro, nunca mais foi o mesmo, apesar de nunca ter mudado.
-Você tem seguro?
-Eu... O que?
-Você tem seguro, pra cobrir o acidente?
-Tenho, você não tem?
-Eu não tenho.
-Você não tem seguro? Você espera que eu acione meu seguro sozinho? Eu não vou assumir a culpa disso aqui sozinho não, você que se vire pra pagar o teu que eu pago o meu!
De dentro do carro, o filho assistia seu pai gesticulando, e pensava que os adultos eram estranhos. Quando perguntou para seu pai para que servia uma gravata, ele não soube responder.
O pára-brisa continuava, pra frente, pra trás, pra frente, pra trás.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A luva


Sentado.Os sapatos, rodeados de migalhas.Segurava um pão envelhecido na mão, que cortava em pequenos pedaços e atirava aos pombos.Uma sombra cobriu o sol, e ele olhou para cima.Aquela silhueta contornada de luz lhe era familiar.Era ela.
Sentou-se ao lado dele e o fitou, sem falar nada.Ele continuou alimentando os pombos.Tantos anos, tantos anos.-Você ficou grisalho- Disse, como se comentasse o clima.
-Eu sei-Ele suspirou em resposta.Não sabia o que dizer.Lembrava a ultima vez que à tinha visto.Ainda não tinha cabelos brancos.Fora a mais de cinquenta anos, no dia do casamento.Dela.

"Sua burra, sua burra!"Ele gritava, olhando para a janela fechada no primeiro andar, as gotas fortes de chuva estalando no seu chapeu."Eu te amo, eu que te amo!"Já virando para ir embora, ouviu o ranger das dobradiças e virou-se para cima.Lá estava ela, de vestido, de véu de noiva, usando uma luva branca na mão esquerda.

-Muito grande.
-O que?
-O pedaço de pão.Tem que ser menor, senão elas não comem.
-Hum.
Pensou mais um pouco, depois completou
-Não importa.Eu não venho aqui pelas pombas.
Começou a cortar o pão em varias partes, derrubando migalhas na perna.Ela pousou sua mão delicadamente em cima da dele.Uma lágrima molhou seus dedos.

"Vai embora."Ela quase susurrou, mas, mesmo em meio ao vento e a chuva, ele ouviu.A janela estava quase inteiramente fechada quando ele gritou."Eu lembro!Eu lembro da promessa!"Os dedos cobertos pelo tecido branco que puxavam a janela hesitaram, em seguida desapareceram.Ele virou as costas e chorou.Andou na chuva, se afastou da casa em direção a rua, caminhando pelo grande jardim.Quando estava chegando ao portão, ouviu sua voz."Eu também."Virou-se e lá estava ela, de branco, sem sapatos, o véu caido de uma forma estranha sobre sua face.O cabelo molhado da chuva.A luva em uma mão.Linda.
Correu até ele.

-Não chora.
Ele prendeu a respiração, apertando os olhos com força.Em seguida, escondeu o rosto no ombro dela e chorou.

domingo, 27 de setembro de 2009

Da Janela

Outro dia vi um menino passando na rua,
enquanto olhava da janela.
Me lembrou alguem, que eu não vejo já faz tempo
De dentro da memoria, lembrei-me de mim mesmo

Tive vontade de correr, de gritar e lhe dizer
Ei menino, larga essa mochila, amanhã você estuda
Chama teus amigos e va brincar na rua
Esse tempo passa rapido, e na tua vida tudo muda

Queria muito lhe falar, queria muito lhe dizer
Tanta coisa que eu sofri pra aprender
Não, não amarre teu sapato, seja desleixado
Não tire notas boas, não viva preocupado

Quero muito ensinar, as coisas que eu sei
Pra não ver ele chorar, tudo que eu chorei
Não pense em ser grande, não queira tudo agora
Mais tarde a vida pega tudo e leva embora

Queria tanto lhe alcançar, lhe abraçar e lhe dizer
Que tenha orgulho dele mesmo, que seja o que quer ser
Queria tanto lhe dizer, queria tanto lhe falar,
Nunca esqueça dos teus sonhos, nunca esqueça de sonhar


Tinha tanta coisa pra dizer
Nem sabia por onde começar
Quando finalmente o alcancei
Ele se virou e me olhou
Com aqueles olhos inocentes que uma dia conheci
Não sabia o que dizer, não sabia o que falar
O menino foi embora, eu fiquei calado
Olhando ele partir, de cadarço amarrado
Tentei tanto lhe falar, tentei tanto lhe dizer
Sentei e chorei, na calçada da minha rua
E num surruro, gritei
Menino, volta aqui, que estas lagrimas são tuas

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Conversa no Bar

-Você emagreceu, amor.
-Ah, eu era gorda antes?
-Não amor, nao foi isso que eu disse, eu disse que...
-Eu sei muito bem oque você disse, você insinuou que eu era gorda.
-Claro que não amor.Eu disse que você emagreceu.Você já era magra, e emagreceu mais agora.
-Ah, agora eu sou magra demais para você?
-Amor..Claro que não...
-Se você quiser eu engordo, eu posso comer mais, é isso que você quer?
-Amor, para.Claro que não.Você é perfeita, perfeitamente proporcional.
-Não foi isso que você disse agora a pouco.
-Desculpe, amor.Você é linda, perfeita, a mulher mais linda desse mundo.
-Ah, então você só esta comigo pela aparencia?Não liga pro meu carater, pra minha personalidade?
-Amor, claro que ligo!Você é uma ótima pessoa!Eu estaria com você mesmo se você fosse feia.
-EU SOU FEIA!?
-Amor, calma, você ta chamando a atenção de todo mundo no bar.
-VOCÊ QUE TEM QUE SE ACALMAR!EM MENOS DE CINCO MINUTOS VOCÊ ME CHAMOU DE FEIA, GORDA E SEM PERSONALIDADE!
-Querida, calma.Senta, você entendeu errado.
-AH, AGORA EU SOU BURRA TAMBÉM?

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A Pior Coisa do Mundo

É perder uma discussão porque a pessoa não entende o seu argumento

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Vanusa e o Brasil

A cena já esta eternizada na mente de milhões de internautas.A cantora Vanusa cantando o hino nacional no 1o Encontro Estadual de Agentes Publicos, e, por motivos alheios ao conhecimento daquele que vos escreve, atribuindo-o uma letra completamente nova e desprovida de qualquer sentido.Tamanha foi a vergonha que o hino teve de ser interrompido por aplausos e por uma voz metalizada que ecoava pelo recinto e agradecia sua presença, uma voz que, fosse eu uma pessoa religiosa, atribuiria a Deus, que, dizem, é brasileiro.
O que levou Vanusa a cantar o hino daquela forma permanece um misterio.Talvez estivesse passando mal.Talvez estivesse de saco cheio.Não importa.
O fato é que aquela cena, aquele momento de intensa vergonha alheia em que todos os presentes bem trajados acompanhavam o hino nacional brasileiro sendo assassinado, representa com assustadora perfeição a situação política atual do pais.Leis draconianas são aprovadas, escandalos políticos são esquecidos e nós, o povo heróico, assistimos a tudo, com o brado retumbante entalado na garganta.
Não cabem divagações, pelo menos não nesta oportunidade, a respeito de "a quem se deve atribuir a culpa" ou "o que podemos fazer para mudar".O humilde aspirante a jurista que vos escreve deseja apenas mencionar a comparação, digna de uma pequena crônica política em meio aos temas geralmente muitos mais interessantes que costuma escrever.

Mesmo porque, o Brasil ganhou da Argentina, então tudo bem.

Feliz 7 de Setembro a todos os brasileiros.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Memorias

Olhando pra tras e pensando na minha vida agora
Em todas as pessoas que fizeram parte dela
Em todas as pessoas que ficaram..E nas que foram embora
Pessoas que eu vejo de longe, num filme, na janela

Pensei em grandes amores passados e vividos
Em pessoas que sei que só verei em memoria
Pensei em amigos que ficaram, amigos perdidos
E sei que eles todos fazem parte de minha historia


E em cada personagem que existiria
Em todas as pessoas, lugares, de todo jeito
E cenas maravilhosas e uma historia linda
Nesse estranho filme que nunca será feito

Sei que se vive a vida olhando pra frente
E sei que de de nada adianta amar o passado
Mais de memorias mesmo que esse mundo é feito
Pra que viver sem lembrar o que tem que ser lembrado?

Agora vivo cada momento
Na consciencia que num universo paralelo
Eu viajo contra o vento
E busco montar esse grande castelo
E lembro do momento que vivo agora
Nesse mundo de coisas e pessoas
Que sempre vão embora

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A Barata

A única memória que eu tenho da época em que meus pais eram casados envolve uma barata.Eu devia ter uns cinco ou seis anos.Lembro que estávamos eu, minha mãe e minha irmã em casa quando de repente alguém a avistou.Não me lembro quem, só lembro que minha mãe, que morre de medo de baratas, saiu correndo e gritando e pulou em cima do sofá.Minha irmã foi atrás e logo estavam as duas no sofá.Eu sai do meu quarto e, apesar de nunca ter tido medo de baratas, resolvi participar da festa e subi no sofá também.Ficamos ali esperando meu pai chegar, não faço idéia de quanto tempo.Finalmente ele apareceu, e essa é a parte que eu mais me lembro: Meu pai passando pela porta da cozinha, de jaleco branco e carregando uma pasta preta.
Não me lembro de mais nada.Suponho que ele tenha matado a barata, já que ninguém mais esta em cima do sofá.Sempre que posso penso nesse dia.Não porque tenha sido divertido ou engraçado, não lembro se foi.Mas é a única lembrança que tenho da minha família unida, e quero guardá-la comigo o tempo que for possível.
Depois que meu pai foi embora, sempre que uma barata aparecia, eu era encarregado de exterminá-la.Sempre tinha que interromper o que eu estava fazendo, seja jogando videogame ou brincando com meus carrinhos, para ir matar a barata.
Durante muitos anos isso me atormentou.Odiava ter que parar de brincar para ir matar baratas.E elas apareciam com cada vez mais freqüência.Primeiro uma vez por mês, depois duas, depois toda semana.Até que um dia percebi que não tinha mais tempo de brincar, passava o dia todo caçando baratas.Hoje já desenvolvi técnicas e acabo com elas muito mais rápido, mas nunca vou esquecer o quão difícil foi essa época da minha vida, em que tive que aprender a matar baratas sozinho, porque ninguém mais podia fazer isso por mim.
Não sei bem o que essa historia quer dizer, só sei que hoje, sempre que vejo uma barata, olho com inocência para a cozinha, na esperança de ver meu pai entrando pela porta, de jaleco branco e carregando sua pasta preta, pronto para matar todas as baratas que roubaram minha infância.

terça-feira, 25 de agosto de 2009




Isso é o que eu penso de certos artistas

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Sonhos


Aproveite bem a vida
Disse o sabio ao aprendiz
Só me arrependo
Daquelas coisas que não fiz

Viva a realidade
Não viva de sonhar
Nem todo sonho
Pode se realizar

Não me entenda errado
Respondou o aprendiz
Mas não vejo sentido
Nas coisas que me diz

Quem falou que o sonho
É o esboço do viver
Se enganou, com certeza
Pois eu sonho por sonhar

E os sonhos que cultivo
Comigo vão morrer
Pois os outros teimam sempre
Em se realizar

Talvez


Para ser cantada com um violão, na praia, num dia de inverno.

Longe de casa, onde quer que você esteja
Vendo estrelas onde não existe nada
Parado esperando a carona
No meio da estrada

Voando baixo, com medo de chegar no céu
Voando livre num avião de papel
Um poeta sem pena uma mão que acena
Um pintor sem um pincel

E talvez
Talvez um dia um sonho entre por debaixo da porta
E te leve pra longe daqui
E talvez
Talvez voce encontre amigos na viagem de volta
E voe pra longe daqui

Talvez eu viva só de sonhos
Nem que seja por um dia
Talvez a tristeza seja apenas
Um outro tipo de alegria
E hoje eu sei que eu vou sonhar
Com uma noite sem luar
Talvez eu viva só de sonhos
Talvez eu morra só de amar

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Os Sonhadores

Os sonhadores esquecem
De vez em quando
As vezes sempre
Que o presente já foi futuro
Quando o passado era presente

E sonhadores de outrora
Sonhavam sempre
Com esse futuro-presente
Sonhavam todo dia
Sonhavam como agente

E se o futuro deles
Virou nosso presente
E nada mudou
Porque o nosso futuro
Há de ser diferente?