quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Dialogo Infeliz

-Nunca aconteceu de você ter essa sensação de que a vida foi imposta a você? De que tudo é um grande mistério que você passa a vida inteira tentando resolver e depois morre? As vezes eu me sinto assim, obrigado a estar vivo, mesmo sem entender o que é estar vivo. Me sinto preso na vida.

-Preso na vida? Como você pode dizer isso? A vida é um mar de possibilidades! A vida é maravilhosa! Nosso planeta é imenso e lindo, pense em quantos bosques inexplorados existem por ai, pense em quantos lindos campos de trigo você pode explorar! E isso é só o nosso planeta! Olhe para cima, olhe esse imenso universo que nos rodeia! Um universo de possibilidades, de mundos estranhos e buracos negros e misterios a serem resolvidos! E dentro de cada um de nós, o misterio da existência, do cérebro, da alma, as incríveis jornadas que podemos fazer dentro de nossa própria personalidade! Um bom vinho, uma gaivota voando no céu, um pôr-do-sol, uma casa a beira-mar! Tudo é possivel nesse mundo imenso, e temos tempo para tudo, porque hoje é só mais um dia de 365 de apenas um de muitos anos que ainda temos pela frente! A juventude é linda, a vida é cheia de possibilidades e amor, o universo está só esperando por nós!

-....


-O que?


-Odeio pessoas positivas.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Juventude, Tragédia, Vida e Maturidade

Se você digitar "escola americana de santos" no Google, assim, com aspas mesmo, e clicar no primeiro link da página de resultados, vai descobrir o antigo portal da escola em que estudei durante toda minha infância. Eu fiz isso hoje, não sei porque. E eu entrei no site.

Bem-Vindo a Escola Americana de Santos
Santos, 8 de Janeiro de 2010.

A Escola Americana de Santos não existe mais. Eu sei disso. As salas de aula, os corredores, a sala de musica, todos eles deixaram de existir da forma como eu os conhecia, e aparecem vazios e assustadores na minha memória, ao som de distantes risos infantis.

Apesar disso, quando li a mensagem de boas vindas, de alguma forma me senti transportado para aquele lugar, como se a própria alma daquela que foi minha segunda casa abrisse os braços para mim e me chamasse para perto. "Bem-Vindo a Escola Americana de Santos". E eu chorei. Chorei como um filho orfão que acorda de madrugada, sonhando ter ouvido a voz de sua mãe numa canção de ninar. Chorei como um soldado que foi lançado a guerra antes mesmo de aprender a manejar uma arma. Chorei e desejei com toda a minha força poder me transportar de volta para minha antiga escola.

Existe um ditado que diz que a juventude é uma vida ainda não tocada pela tragédia. E eu acho que é isso que faz doer meu coração, ainda enquanto escrevo, cada vez que lembro da frase "Bem-Vindo a Escola Americana". Não é da minha velha escola que sinto falta. Sinto falta de mim. Sinto falta da minha antiga vida, não tocada pela tragédia; mas que o mundo inteiro saiba que, para este que vos escreve, não existe vida que não seja tragédia e não existe juventude que não seja linda. E amadurecer nada mais é do que um efeito colateral da tragédia que é perder-se num emaranhado de memórias demais e tempo de menos. E não existe juventude que dure para sempre, nem tragédia que vá embora. E também não existe maturidade que compense. Vida, tragédia, juventude e maturidade são elementos entrelaçados para sempre em um conceito absurdo e paradoxal, como quatro lados de uma mesma moeda.


E eu nunca vou deixar de chorar pela minha velha escola.