domingo, 25 de abril de 2010

Minha Arte Vazia

Quero um dia escrever
Uma poesia pra expor
Nada e coisa alguma
Pra dizer coisa nenhuma

Uma poesia sem mensagem
Sem contexto e sem imagem
Sem começo, meio ou fim
Um entendiante pedaço escrito
De mim

E quase ninguém vai ler
E quem ler não vai gostar
E quem gostar não vai entender
E quem entender vai odiar

Porque ela vai existir
No limite da existência
Sem conteudo, sem alma
Sem contexto e sem essência

Ela vai existir
Só por existir
Minha poesia,
Minha arte vazia,
Que um dia vou fazer
Pode ter certeza, vai ser
Como eu e você
Sem nunca entender
Porque existe
Sem nunca saber
Seu motivo de viver

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sophia e as Estrelas

Mais um da série "Aventuras de Sophia". Talvez eu publique um livro.

Não é meu melhor trabalho, mas, para um poeta semi-bebado as 4 da manhá, é uma vitória.


Foi uma fria noite de domingo que Sophia se apaixonou por uma estrela. Sem conseguir dormir, olhou para o céu e, naquele sem fim de estrelas, encontrou uma que parecia brilhar de uma forma especial, só para ela. E se apaixonou. Jurou amor eterno aquela linda estrela. Naquela noite, não dormiu. Pensava na estrela, deitada na cama, e, de vez em quando, ia até a janela e lá ficava, mirando o céu, namorando seu grande amor. Passaram-se dias, meses, e Sophia não pensava em outra coisa senão naquela estrela. Passou a odiar a manhã e a tarde. Contava os minutos para a noite chegar e poder encontrar-se novamente com seu grande amor. E como era correspondida! A estrela parecia brilhar mais a cada noite, iluminada por seu novo amor. Tinham encontro marcado todas às noites, às dez e meia, quando Sophia ia dormir, e, por muito tempo, a estrela não faltou em um encontro. Sophia também não.



Uma noite, a estrela não apareceu. Sophia esperou ansiosa, como sempre, o dia acabar. Mas chovera a tarde toda e de noite o céu surgiu, carregado de nuvens, e nada da estrela aparecer. A pobre menina não dormiu a noite toda. Levantava-se de dez em dez minutos para olhar a janela, esperando a estrela que não aparecia. Mas a manhã veio e a estrela não apareceu. Sophia dormiu, e a luz do sol da manhã iluminou seus olhos manchados de lagrimas, segundos antes de eles se fecharem.



Passou-se uma semana, e nada da estrela aparecer. Até que uma noite, Sophia, distraída, olhou para o céu. E lá estava sua linda estrela. E Sophia sorriu. Mas já não era o mesmo sorriso. E a estrela brilhou. Mas já não era o mesmo brilho.



Mais algum tempo se passou. A estrela faltou em alguns encontros. Sophia faltou em outros. Até que uma noite uma coisa muito estranha aconteceu. Sophia olhou para o céu e percebeu que ele estava cheio de estrelas. E todas elas brilhavam. Foi neste dia que Sophia percebeu que sua estrela não era especial, não brilhava mais do que as outras. Era apenas uma estrela, no meio de tantas outras. E Sophia se apaixonou novamente. Por outra estrela, esta sim, muito mais brilhante, muito mais bonita. E Sophia esqueceu de seu primeiro amor.



E assim foi para o resto de sua vida. Somente no fim, quando já tinha amado todas as estrelas do céu, foi que Sophia percebeu que buscava nas estrelas um brilho que não existia senão dentro dela. E Sophia entendeu finalmente o que é o amor.

domingo, 18 de abril de 2010

A Arte Existe

Ao poeta perguntaram: Porque você escreve?

Escrevo – Disse o poeta – Porque tentei trabalhar, e trabalhar não pude. Escrevo porque tentei respirar, e respirar não pude. Escrevo, meu colega, porque não sei não escrever. E tentei. Ah, como tentei. Mas dessas outras coisas da vida, nada sei. Nada sei de viver. Nada sei de sofrer. Nunca aprendi a sonhar, nunca aprendi a esquecer. Nunca aprendi a calar, não sei como viver. Amigo, meu querido amigo, eu escrevo porque, de todas as coisas da vida, de todas as coisas para se ver e se fazer, só sei mesmo é escrever.

E ao musico indagaram: Pra que servem estas notas?

Essas notas – Respondeu o musico – só me atrasam a vida. Desde menino me acompanham, aonde quer que eu vá. Essas notas que me seguem, comigo nasceram. Como queria, ah como queria, delas me livrar. Por uma vez não escutar, aonde quer que eu vá, essa musica a soar, em cada rua barulhenta, em cada uivo de cachorro, em cada pássaro a voar. Mas não foi me dada escolha, não posso escolher. Vivo para ouvir, não vivo por viver. E não conheço outra vida, senão a vida de musica e harmonia. De compasso e melodia. E tenho medo de descobrir, qualquer noite ou qualquer dia, que uma vida sem musica e sem notas, essa vida que eu queria, é cinza e é triste, sem amor ou alegria. Uma vida sem prazer, sem sofrer? Não. Fico com minha amarga sinfonia.

E perguntaram ao pintor: E os quadros e pinturas?

Esses quadros – Começou o pintor – São essenciais, e de utilidade infinitamente maior que qualquer nota, que qualquer palavra. Ah, meus quadros não são arte, não são feitos para os outros. Nesses quadros guardo quem eu sou, quando me perco na minha mente e transbordo e vou, vou, vou pra longe de mim mesmo. Guardo nesses quadros aquilo que não cabe mais no coração. Que escapa do desejo, que foge da paixão. Guardo nesses quadros toda e qualquer ilusão, desde que louca demais para ensejar a realidade. De verdade. Não, não faço arte. Meus quadros são tão meus quanto minha mente, minha alma e meu braço. Fazem parte, fazem parte.

“Pra que servem, então, as notas, as palavras, as pinturas? Pra que serve essa arte?” É o coro do mundo revoltado, voltando-se contra as almas perdidas desta vida, que escrevem, que pintam e que tocam justamente porque não sabem mais o que fazer, o que dizer. Justamente porque não tem pra onde ir senão para dentro de si mesmos, ou porque já foram para todos os lugares, ou porque não podem ir a nenhum. A arte existe como fim de si mesmo, como meio de seu fim e como começo de seu meio. A arte existe como forma de expressão daquilo que não pode ser expressado sem arte, ou porque é profundamente complexo, ou porque é ridiculamente simples.

A arte existe.