sábado, 16 de fevereiro de 2013

Existe um lugar para você se esconder



Existe um lugar para você se esconder. Fica no caminho entre o trabalho e a casa. Fica nas esquinas nubladas entre a Avenida Rebouças e todas aquelas ruazinhas que vão dar no Jardins. Fica nos olhares parados dos motoristas, nas bugigangas penduradas em vendedores ambulantes. Fica em uma nova estação de rádio, que você nunca ouviu, parado no trânsito. Um lugar em que existem milhões de outras pessoas, fazendo milhões de outras coisas, e nenhuma delas tem a menor ideia de quem é você ou porque você resolveu usar a gravata vermelha hoje. Fica nas pequenas mercearias e relojoarias de bairro, nos grandes supermercados e na entrada dos shoppings. Fica dentro do seu carro, com você, sentado no banco vazio
 do passageiro.

Existe um lugar para você se esconder.

Existe um lugar para você se esconder.  Um lugar entre o sol e a lua, quando a madrugada ainda não tem tanta certeza se quer ou não virar manhã. Hesita entre a escuridão esgotada da noite e a claridade adolescente da manhã. Uma terra de ninguém, quando uns poucos passarinhos ensaiam seus primeiros cantos, ainda em dúvida se devem ou não anunciar um novo dia.

Existe um lugar para você se esconder.

Existe um lugar para você se esconder. Fica na praia em um dia de chuva. Fica no sussurro raivoso do mar, na sensação gelada da camisa molhada grudando contra o corpo. Fica no vento que levanta o cabelo, e fica nos milhões de buraquinhos que as gotas de chuva fazem na água do mar. Fica nos olhos fechados, na gota escorrendo pelo rosto e pingando na areia. Fica no avião distante, sugerindo duzentas vidas viajantes e uma promessa de melhores lugares.

Existe um lugar para você se esconder.

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