quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Vai Chover

Vai chover.
Não importa o quanto pareça bom o tempo agora, não importa o quanto o sol esteja brilhando. Vai chover.
E a chuva vai te derrubar, vai te levar ao chão, ao meio fio, largado, ensurdecido pela percussão das gotas pela cidade, em cada beco, em cada esquina, em cada lata de lixo.
E aí você vai olhar pra trás. Não se engane, você vai. Para os dias de sol, para as primaveras e os verões, com aquele olhar triste de velhos atores de cinema, aquele olhar dos adultos, e você vai ter que saber lidar com isso e fingir que está tudo bem. E você vai descobrir que está crescendo. E vai descobrir uma porção de outras coisas também.
Vai descobrir que as pessoas passam por você, nesse mundo louco, deixando às vezes um sorriso, um jeito especial de te olhar, um aperto de mão, uma ligação perdida no celular. Um momento que poderia mudar tudo. E você vai pegando essas coisas e levando com você, e vai demorar pra descobrir o quanto elas pesam, no final.
E você vai descobrir que é difícil. É difícil carregar tudo nas costas. Às vezes da vontade de desistir. Às vezes, desistir é o caminho certo. Às vezes não.
Vai descobrir que existe beleza em qualquer coisa que colocamos os olhos. Uma lembrança, uma possibilidade, um momento que nunca aconteceu. Mas deixa eu te contar um segredo: A felicidade que você tem que buscar, a que vai mudar sua vida, aquela que implora dentro de você para ser encontrada, não é na luz do dia que você vai encontrar. No sol não se esconde nada. São os cantos escuros e chuvosos, nos momentos em que você só quer uma cama quente e um abraço, quando ninguém mais está do seu lado. É aí que ela vai aparecer. E você tem que estar preparado, senão vai perder o momento. Aquele brilho no meio da madrugada, aquele pontinho de luz, pode ser mais, muito mais que um farol de carro. Pode ser tudo aquilo que você estava procurando.
Você vai descobrir que pode um dia subir no trem da meia noite, e cruzar a madrugada, vendo o mundo passar na janela feito tela de cinema. Você pode achar o amor da sua vida, e escrever coisas engraçadas na areia da praia, deixar dois nomes numa árvore, embrulhados em um coração. Você pode desistir de tudo, viver de gorjeta em um bar de esquina, improvisando memórias em um velho violão. Você pode ser artista, pintar gordos rostos de turistas em Montmartre, reclamando do outono de Paris. Você pode.
Vai descobrir que tudo, absolutamente tudo, é pequeno demais para se importar. Os demônios e as quimeras são brinquedos de madeira, você vai ver. As coisas que realmente importam vão surgir, aos poucos, e você pode ficar surpreso. Pode ser algo que você nunca deu importância, algo que você estava preocupado demais para colocar seus olhos, para perceber. Pode ser alguém. Pode ser qualquer coisa. Mas isso também é pequeno demais.
Você vai descobrir que não existe nada no fim do arco-íris. E é aí, quando você chegar, cansado e esgotado, no fim da estrada de tijolos amarelos, e descobrir que ali não tem nenhum pote de ouro, é aí que você vai ver que o tesouro eram as cores no céu, era esse grande arco que você seguiu até aqui. E nenhum ouro do mundo vai te deixar tão feliz quanto isso.
Mas, acho que, mais do que tudo, você vai descobrir que essa chuva, que pinta a cidade toda de cinza, que te gela até os ossos e te leva até o chão, também carrega tudo lá pra longe, e, um dia, em pouco tempo, você vai levantar os olhos pro céu e vai ver que o sol apareceu. E aí, quando você baixar o olhar a sua frente, vai ver que a cidade não é mais a mesma. Vai ver que a chuva levou um monte de coisas embora, e trouxe coisas novas também. Só que ninguém notou. E é engraçado, porque assim de uma hora pra outra, você percebe que o maior dos temporais pode ter acontecido só dentro de você.

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