segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Vaga-Lume

São pequenos lapsos de insanidade, ou um olhar mais demorado em direção ao infinito. Qualquer coisa de fora do comum, na verdade.
Uma prosa mal escrita em um momento de tristeza, talvez.
Mas a vida é, no fim das contas, isso mesmo. Os breves momentos de clareza e lucidez, que não podem ser capturados, como pequenos vaga-lumes atravessando a noite lá longe. Você pode vê-lo, mas não pode tocá-los. Ou uma stripper barata, que funciona da mesma forma que o vaga-lume.
Porque, afinal de contas, ninguém sabe o que esta fazendo nessa festa aqui. Tem espaço pra todo mundo, bastante bebida, tristeza, um pouco de magia, sorrisos, traições, livros e ligações perdidas no celular. Tem alegria também, tem tudo isso. Mas a gente precisa desses pequenos vaga-lumes, porque a verdade é que não é aniversario de ninguém. Não é um casamento, bodas ou despedida de solteiro. E chega uma hora na festa em que você quer conhecer o dono da casa, quer saber quem ta pagando por isso tudo, e aí é chato, porque todo mundo é amigo de amigo de alguém, e ninguém sabe muito bem o que ta acontecendo.
Mas é nessa hora que você se apóia naquele canto só seu, com um copo de bebida na mão e aquela tristeza que é só sua e de mais ninguém, e você vê. Ali, do lado de fora da janela, perto do mato escuro e da estrada, aquele pontinho iluminado. Mas nem tenta chegar perto, não dá. Ele rodopia um pouco, faz que vai entrar pela janela (as vezes até entra, mas fica pouco tempo) e vai embora, e você não sabe se ele vai voltar.
Mas não fica assim não, limpa esses olhos, levanta essa cabeça. Porque o mais legal de tudo é que, quando ele apareceu brilhando no escuro, quase ninguém viu. Tinha gente ali, do lado dele, conversando e dando risada e assinando papéis de divórcio, e você lá de longe é que viu o vaga-lume. E é legal pensar nisso, pô. Só não tenta ir lá fora e alcançar ele. Você pode vê-lo, mas não pode tocá-lo. Como uma stripper.
E não tem porque não aproveitar a festa, também, né? Já que você ta aqui...
O legal (mas também é triste, se você parar pra pensar) é que todo mundo vai embora uma hora. E ta sempre chegando mais gente também. Mas aí, quando chega sua hora e você se vê caminhando em direção a porta, e você não faz idéia do que tem ali fora, porque você nem lembra como chegou na festa, você lembra do vaga-lume. E tem muita gente que vai embora sem saber do vaga-lume, e isso deve dar medo pra caramba. Mas você ta ali, girando a maçaneta, pronto pra sair, o suor escorrendo pelo canto do rosto. E aí vem aquele sorriso no seu rosto, porque você sabe o que você viu.
Você sabe, ao abrir a porta e dar de cara com esse infinito escuro e vazio que é o outro lado, que em algum lugar ali no meio dessa imensidão, rodopiando e indo pra lá e pra cá, tem um pontinho de luz voador, e, quem sabe fora da festa, a gente não consegue encostar nele e ver do que ele é feito?

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