sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A Fonte



Andando sozinha e despreocupada, Sophia encontrou uma fonte. Dessa antigas, de pedra branca, que cospem a água do centro em todas as direções, formando um laguinho de águas turbulentas embaixo.


A fonte estava desligada, de forma que Sophia podia ver com clareza, através das folhas secas boiando e do musgo que se agarrava as laterais, um milhão de pequenas moedas douradas, roubando para si as luzes da noite e devolvendo-as em forma de pequenos pontos de luz incrustados no fundo de mármore.


Sorrindo, Sophia deixou a mão cair na água. Com leveza, balançou para lá e para cá, desenhando pequenos círculos concêntricos na superfície. Que estranho. Todas essas moedas, todos esses pedidos. Sophia sabia que as pessoas jogavam moedas na fonte, e, de pálpebras bem apertadas, sonhavam os sonhos que queriam realidade. Os únicos pedidos que eu fiz com moeda foram na padaria, de bala, doce ou chocolate. Todos se realizaram. Sophia permitiu-se um segundo sorriso e, afundando a mão na água, buscou uma moeda ao acaso.


Você foi um filho que nunca veio. Eles tentaram, tentaram e tentaram. Tudo o que queriam era você para ocupar o quarto vazio, que, com o tempo, foi virando depósito, envelopado por um papel de parede de unicórnios descascado e velho.


Sophia jogou a moeda de volta e pescou mais uma.


Você foi uma promoção. Finalmente o reconhecimento, depois de tantos anos de luta. Merecido, merecido. Agora pode comprar seu carro novo, e, quem sabe, planejar aquela viagem para Ushuaia.


Você foi o pedido de reconciliação. Depois daquela briga boba, que de tão boba e sem importância, acabou fazendo bobo e desimportante o casamento inteiro. Que coisa.


Você foi a recuperação milagrosa da vovó.


Você foi uma viagem para Disney, você foi um videogame novo e você foi o pedido para que o papai voltasse para a casa e a mamãe parasse de chorar.


Sophia mergulhou a mão mais uma vez e escolheu outra moeda.


E você... Você eu vou usar. Acho que o universo não vai ligar se eu reciclar um pedido.


Sophia fechou bem os olhos e apertou a moeda molhada entre as mãos. Eu queria encontrar um motivo para todas as coisas. Eu queria saber por que o universo se da ao trabalho de existir, e eu queria saber de onde a gente veio e pra onde a gente vai.


Eu queria saber.


Sophia largou a moeda descuidadamente na água, e suspirou assistindo o pedacinho de metal dançando, devagar, em direção ao fundo da fonte.


Já ia levantar para ir embora quando, sem pensar duas vezes, enfiou a mão na água e resgatou a moeda antes que batesse no fundo.


E um iPhone.





Jogou a moeda de volta e deu meia volta, deixando para trás o laguinho habitado pelos desejos daqueles que desejam.

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