terça-feira, 16 de abril de 2013

Vamos Morrer



Vamos morrer.
Vamos todos morrer, e eu não quero soar como uma pessoa triste, ou o passageiro de um avião cuja asa acabou de ser decepada por um raio, mas vamos todos morrer.
Digo que não quero soar como uma pessoa triste porque o mero ato de morrer, em si, não pode ser uma coisa triste ou feliz. Falta ponto de comparação.
Dizemos que uma lasanha é boa e, subentendido, está o fato de que ela é boa comparada a outras lasanhas, ou, se você tem uma visão mais abrangente do mundo, outras comidas de origem italiana.
Mas não existe ponto de comparação para a morte. Morrer é ruim em relação a o que? Viver? Vive-se baseado na morte. Não existe vida que não termine com a morte (não discutirei zumbis nesse texto, não insistam), portanto, não podemos dizer que a vida que termina em morte é boa ou ruim.
O que podemos dizer, no entanto (e, no caso, eu estou dizendo), é que morrer é angustiante. É angustiante no sentido que nos trás uma dualidade cruel, de um tipo que não estamos preparados para lidar.
Morrer transforma a vida em um paradoxo.
Explico: A morte, a partir do momento em que se torna parte da vida (ou seja, a morte sendo a morte. Desculpe, eu não sei porque alonguei essa frase), transforma-a (a vida) simultaneamente, em algo ridiculamente desprovido de valor e na coisa mais valiosa do mundo.
Explico mais um pouco: Sob a ótica da morte, viver qualquer tipo de vida não faz o menor sentido. Trabalhar, casar, ter filhos... Ou o polo oposto: não trabalhar, beber, morar na rua, alimentar-se de sol, sei lá... Tudo isso perde o propósito sob a ótica do “não-existir”, de forma que tudo o que fazemos é irrelevante. E esse fato carrega consigo uma infinita liberdade.
Explico mais um pouquinho (ta acabando): Por outro lado, o fato de que só vivemos uma vida e não haverá vida após essa vida (e, mesmo se houver, você vai ser uma pessoa completamente diferente e não vai lembrar da sua vida anterior: ou seja, não é você, ou seja: não existe vida após essa vida, ou seja: eu estava certo) faz com que toda e qualquer atitude tomada tenha um valor inestimável. Só temos essa vida, só temos esse período de tempo, só temos esses recursos, e, por mais que tudo seja varrido para o esquecimento no momento de nossa última respiração, agora, neste segundo, a vida tem um valor infinito.
Devemos, então, viver cada segundo como se fosse o último? Aproveitar nossa vida pois não sabemos o dia de amanha? Viver em uma espiral hedonista eterna, sem a menor consideração pelos sentimentos daqueles a nossa volta e do mundo em que vivemos, porque, francamente, depois que eu morrer nada mais importa, então o mínimo que essa vida indiferente me deve é a possibilidade de entorpecer-me de sentimentos e alegrias fugazes?
Ou, por outro lado, devemos construir cada momento na consciência de que existirá um momento após aquele, e outro após aquele, cuidadosamente construindo nossa casa de cartas, que, sabemos, dia mais dia menos, será carregada pelo vento, mas que, enquanto o vento não bater, nos proverá abrigo e proteção?
A resposta, obviamente, é que foda-se.

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