sexta-feira, 27 de julho de 2012
Loveless Dance
If only there was a way back on this road
If only I could remember
Every wrong turn we took together
I'd lead us back
Is there a place where the broken love songs
And stories and hearts go
When no one wants them anymore?
Will our kisses all wind up there?
So don't think about a thing baby
Just stay here, pretend you still love me
I'll pretend I still love you
One more time, one more time
So we keep this dance, just for us
I'm not hoping love will come back
It's gone for good I know
I just need a memory
To justify my smiles and my joy
In a few a years, seems so wrong
To be alright without you
To go on and find happiness, somewhere else
So we keep this dance, this loveless dance
As a token, a broken picture of our love
That we can take a look every now and then
When it's over, and say it was worthed, while it was
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Bonde/Sonhos
Que eu a vi partir
Meio sorriso, meio choro, ensaiando um desespero
Que estava ainda por vir
Sonhamos uma vida juntos toda noite todo dia
Para sempre e até o fim
Mas qualquer dia sem eu perceber ela pegou no sono
E deu pra sonhar sem mim
E foi acalentando aqueles sonhos tão pequenos, tão miudos
Que sonhou pra si e só pra si
E os meus sonhos eram todos dela,mas os dela eram só dela
Como foi que eu não vi?
Depois que ela se foi me vi tão solto e tão perdido
Sem saber o que fazer
Com todos esses sonhos que ela não quis mais
Que eu criei e vi crescer
Um a um fui vendo eles cairem, doentes, moribundos, sem carinho e sem amor
Negados pela mãe, esquecidos para o pai
E não sobrou nenhum motivo pra fechar os olhos
Quando escurece e a noite cai
E hoje eu espero esse bonde, que faz tempo não existe mais
Cruzar essa mesma praça, esse mesmo lugar
E trazer de volta para mim, depois de anos e anos sem fim
Os sonhos que eu tanto quis sonhar
quarta-feira, 23 de maio de 2012
Voltar
Um dia ele saiu e demorou para voltar
Eu disse, preocupada ao ver ele chegar
Meu amor, meu amor só me prometa
Que nunca vai me abandonar
Ele riu, olhou pra mim e disse "pare de chorar"
E disse me abraçando "sempre que me ver partindo
Pode ter certeza, certeza
Eu sempre vou voltar"
Voltar para teus braços,
Teu jantar na nossa mesa
Nossos filhos, nossa vida
Você pode ter certeza
Voltar para teu olhos
Meu futebol, tua novela
Se eu vou embora, meu amor
Eu volto, só me espera
Por isso, moço, me perdoe
Mas essa dança, eu não posso lhe dar
Estou jurada, prometida
Esperando ele chegar
Não adianta, não tem jeito
Eu sei que ainda vai ele voltar
Muitos anos, se passaram, eu sei
Mas ele me disse pra esperar
domingo, 20 de maio de 2012
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Era uma vez...
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Agridoce
-E você superou completamente?
-Completamente.
-Assim? De um dia pro outro? Sem mais nem menos?
-Sem mais nem menos. Quer dizer, sem mais nem menos não. É só que eu percebi que esse vazio, esse falta que ela faz, isso não vai embora. Isso ficou dentro de mim e essa é a herança que eu tenho dessa pessoa que um dia foi tão importante pra mim. E, por mais que a sensação nunca deixe de ser...não é ruim a palavra...melancólica. Por mais que a sensação nunca deixe de ser melanc...agridoce! Nunca deixe de ser agridoce, a forma como eu me sinto em relação à sensação mudou. Parei de ver como um intruso, um inimigo, algo que me faz mal. Agora é só algo dela que ficou em mim, um pedaço, mais que uma lembrança, um verdadeiro pedaço de existência dela que eu vou guardar pra sempre dentro de mim. Em todas as noites que vão se seguir na minha vida, eu vou acordar sem ela lá, mas esse agridoce, essa sensação sem nome que vem quando eu penso nela, vai me trazer seu abraço, seu cheiro, o jeito como sua mão procurava meu corpo durante o sono, seus olhos de inocência quando acordava. Tudo isso está ali, no meio desse agridoce sem nome. É um absurdo pensar nisso como uma coisa ruim. Todas as alegrias e tristezas do nosso tempo juntos estão ali, dentro dessa sensação. Viu? Por isso agridoce! Tristezas e alegrias! Tudo isso está guardado pra sempre dentro de mim, um pedaço dela que se juntou a um pedaço meu pra se transformar em uma coisa nova, uma coisa sem nome, uma coisa linda que vive dentro dela e vive dentro de mim. E sempre vai viver.
-Seus olhos estão vermelhos.
-Pede outra cerveja. E vamos falar de futebol.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Metalinguisticas
Escrevia textos e mandava pra ela. Pequenas fábulas de amor. Confissões, na verdade, que ele não tinha coragem de falar abertamente. Ela lia e dizia que gostava, sem entender que as histórias eram cartas de amor disfarçadas. Um dia, ele tomou coragem e resolveu abrir o jogo. Mandou um conto pra ela, que era mais ou menos assim:
Existia um garota, e um garoto apaixonado por ela. Ele vivia escrevendo histórias de amor e ela vivia lendo-as, sem nunca entender quem era a verdadeira estrela de sua literatura. Um dia, o garoto tomou coragem e mandou uma história diferente. Uma história de um garoto que escrevia textos de amor para a garota que amava, porque não tinha coragem de se declarar. Ele espera uma resposta.
Quando leu o texto, a menina ficou encantada, porque a verdade é que ela sempre gostou dele, mas também nunca teve coragem de falar nada. Se imaginava a estrela de todas as lindas histórias de amor que ele escrevia, mas nunca supôs que de fato fosse! Animada, resolveu continuar a brincadeira e mandou um texto para o garoto:
Existia um garoto, e uma garota apaixonada por ele. Ele vivia escrevendo histórias de amor e ela viva lendo-as, sem nunca entender quem era a verdadeira estrela de sua literatura. Um dia, o garoto tomou coragem e mandou uma história diferente. Uma história de um garoto que escrevia textos de amor para a garota que amava, porque não tinha coragem de se declarar. E ela resolveu responder. Escreveu uma história sobre uma garota que amava um garoto, e, quando descobriu que ele também a amava, foi correndo até a casa dele, tocou a campainha e esperou que ele saísse e a tomasse nos braços e beijasse sua boca.
Quando leu a história da menina, o garoto ficou encantado, não só com o fato de seu amor ser correspondido, mas também com as habilidades literárias até então desconhecidas de seu grande amor. Animado, pegou a caneta e começou:
Existia um garoto, e uma garota apaixonada por ele. Quando ela descobriu que o amor era recíproco, resolveu bater na porta na casa dele, esperando que ele a tomasse nos braços e beijasse sua boca.
Quando abriu a porta e viu aquela menina linda, o amor da sua vida, ele abriu um grande sorriso e disse:
-Eu te amo, estou tão feliz que você está a...
-Perai. – Respondeu a menina, subitamente.
-O que foi?
-Isso não é real.- Ela olhava em volta, confusa, como se algo estivesse muito errado.
-Como assim, não é real?
-Isso aqui não é a vida real. A gente está na história do menino.
-História do menino? – Ele, agora, olhava em volta, também confuso.
-É. O menino escreveu uma história sobre um menino que escreve uma declaração de amor em forma de história para a menina, certo?
-Certo, certo.
-Então a menina respondeu, e escreveu a história de uma menina que recebe do menino um texto, que conta a história de um menino que escreveu uma história sobre um menino que se declara para uma menina através de uma história, e ela resolve bater na porta dele para que ele saísse e a tomasse nos braços e beijasse sua boca.
-Então...A gente está na história da menina, não?
-Não, não – Ela parecia agitada, agora – Porque o menino respondeu. Essa é a resposta do menino. O menino recebeu uma resposta para sua declaração e resolveu escrever uma história. É essa a história que a gente está agora.
-Meu Deus. – Ele estava muito confuso agora.
-Precisamos sair daqui, rápido, vem comigo.
-Pronto, aqui acho que estamos seguros. – Disse ela, segurando sua mão.
-Que lugar é esse? Não parece a vida real. – Ele começou a olhar em volta e, de repente, exclamou – Ah, não, isso aqui é o jardim da minha casa! A gente está na história da menina!
-A história da menina? A da campainha, da porta e do beijo?
-Isso, isso! Olha só, aquela ali é a porta da minha casa. – Disse ele, apontando para frente.
-E agora? O que a gente faz? Precisamos sair ficção, precisamos ir para a vida real!
-Eu tenho uma idéia, rápido, por aqui.
-Onde estamos agora? – Perguntou ela.
-Eu não sei. Parece um quarto, está tudo muito escuro. Deixa eu acender a luz.
Ela piscou algumas vezes, olhou em volta e deu um pequeno grito de alegria. – Esse aqui é o meu quarto! Acho que agora estamos na vida real!
Mas ele não parecia convencido. – Espera...Tem alguma coisa estranha ainda. – Ele olhou em volta, e de repente apontou para um canto do quarto. – Nada disso! Olha só aquela escrivaninha com um papel e uma caneta! Essa aqui é a primeira história da menina!
-Primeira história?
-É, lembra da resposta da menina? Não era sobre uma menina que recebe uma declaração e vai tocar a campainha do menino. Era sobre uma menina que escreve a história de uma menina que recebe uma declaração e vai tocar a campainha do menino! Essa é a história que a gente está! Por isso a escrivaninha. Você deveria estar sentada ali escrevendo sua história. E eu nem deveria estar aqui!
-Meu Deus, e agora?
-Vem comigo!
Ela fez menção de ir, mas de repente parou. – Espera.
-Espera o que, a gente precisa sair daqui!
-Precisa mesmo? Eu nem lembro se gostava de você na vida real. Vai que foi só algo que você escreveu?
-Oras, se é assim, eu não sei se gosto de você na vida real também. Pode ser tudo coisa de um texto seu.
-Então porque a gente não fica por aqui, mesmo?
-Por aqui?
-Vem comigo. – E ela puxou o menino pelas mãos e o levou até a escrivaninha. Sentou-se e, com ele em pé ao lado, pegou a caneta e disse – Vamos passear por aí.
E começou a escrever a história de um menino que faz uma declaração para uma menina, que responde com uma história sobre uma menina que escreve um texto sobre uma menina que ama um menino, e então...
sábado, 11 de fevereiro de 2012
Ele/Ela
Ela pensava: “Amor de verdade é ligar a torneira enquanto usa o banheiro, pra disfarçar o barulho.”
Ele pensava: “Um dia perfeito? Um filme ruim, uma cama e salgadinhos requentados.”
Ela pensava: “Um jantar, no dia dos namorados, restaurante a beira-mar, numa cidadezinha rústica, mas chique nos seus próprios termos. Peixe, salmão de preferência. Discutimos sobre a questão da bebida. Ele quer vinho branco, eu digo que é pra fazer pose e peço um refrigerante de laranja. Ele diz que eu não tenho modos, que nunca seria uma princesa, eu digo que primeiro preciso achar um príncipe. Ele ri, se inclina na mesa e me da um beijo. Não um beijo de cinema, inesquecível e intenso. Um leve roçar de lábios, que contém todo o tempo que nós passamos juntos e se amamos. O peixe chega, ele derruba molho na camisa, eu dou risada e ele finge estar bravo, levemente envergonhado. Chegando em casa, durmo em seus braços na sala, assistindo alguma besteira americana na TV a cabo.
Ele pensa: “Amar pra sempre é uma ilusão. Amor perfeito sempre tem fim. O fim de um amor é parte dele. E não uma parte qualquer, a parte essencial. Um amor se define pelo fim. Nenhum amor eterno é completo. Falta a nostalgia, a lembrança, a saudade, a idealização daquilo que um dia existiu. O único amor ideal é o idealizado, começa a partir do que aconteceu e se completa naquilo que se imaginou.
Ela pensa: “Se a morte não os separou, não foi amor de verdade.”
Ele pensa: “Sexo é só corpo com corpo, não precisa de amor. Mas com amor fica melhor, todo mundo sabe. São coisas diferentes, na verdade, né? Sexo sem amor, sexo com amor. Eu prefiro com, mas não nego se for sem, poxa.”
Ela também.
Ele pensa: “Uma tarde chuvosa, uma musica lenta, um velho quarto de hotel, uma dança a luz de velas. Um filme passando em uma televisão velha ali do lado, sem som, só fazendo companhia para nós dois.”
Ela pensa: “Não gosto de tardes chuvosas. Mas beijo na chuva é legal. Deve ser, nunca fiz. Agora estou triste, não quero mais pensar nisso.”
Ele pensa: “Não existe vida após a morte. Não faz sentido fazer nada aqui na Terra, porque um dia tudo vai acabar. Só vale a pena viver, deixar as coisas acontecerem e tentar ao máximo se distrair e esquecer o absurdo que é estar vivo em um universo completamente indiferente a nossa consciência errante.”
Ela pensa: “Não existe vida após a morte. É isso que me faz levantar todos os dias e tentar aproveitar ao máximo a vida, cada segundo, cada minuto de cada dia. Deus me livre, viver tudo isso eternamente? Ou então ir pro céu, ou reencarnar, ou o raio que o parta. Que sentido faria buscar as coisas que eu gosto na vida, se a vida é só um ensaio pro que a de vir? Ainda bem que um dia vamos todos morrer.
Ele pensa: “Preciso arrumar o que fazer. Não da mais pra ficar passando todo Sabado a noite em casa, bebendo e pensando na vida.”
Ela pensa: “Preciso mudar de vida. Não da mais pra ficar indo em festa todo Sabado a noite e ficar pensando na vida em vez de me divertir.”
Pena que nunca se conheceram.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Amores
Não sei que fim levou. Largou mulher, filhos, emprego, tudo. Hoje passa os dias indo de cidade em cidade, perguntando em cada esquina por uma mulher de branco, com umas orelhas meio de abano saindo pelo cabelo e os dentes da frente levemente separados.
Tem também o escritor que, cansado dos romances fracassados, resolveu sentar e escrever a mulher perfeita. Achava que seus livros fracassavam porque as mulheres da história não tinham o apelo certo, não seduziam nem apaixonavam o leitor. Passou três anos só desenvolvendo a personagem, cada traço, cada trejeito, tudo. No final, se apaixonou por ela. Dizem que são felizes, até hoje.
E o sujeito que se matou pra ir de encontro a namorada, falecida num acidente de carro?
Chegou no céu e descobriu que ela já estava com outro. Passou semanas em depressão. Um dia não agüentou mais. Reencarnou.
Teve o outro que uma vez usou um terno tão bonito, mas tão bonito, que quando se olhou no espelho virou gay. Descobriu que nunca acharia uma mulher tão bonita quanto ele naquele terno. Esse não sei que fim levou, mas dizem por aí que está bem de vida, mora sozinho, tem dinheiro e vive rindo a toa.
A moça que se apaixonou por dois homens, também. Não sabia qual escolher, passava um dia com cada, e, quando deitava na cama com um, pensava no outro. Ficou assim por anos, sem conseguir decidir. No final, descobriu que cada um deles também tinha outra, e hoje em dia moram os cinco juntos, e dizem que as festas na casa deles são muito boas.
O que se apaixonou por um momento? Esse, coitado, é triste até hoje. Namorava a menina, o namoro já estava pra acabar, mas um dia, na saída de uma festa, a manga do vestido caiu um pouco pelo braço, relevando um ombro nu, ao mesmo tempo em que ela virava o corpo e levantava a perna esquerda para trás, pra arrumar o salto, e o coitado se perdeu no momento. Pediu ela em casamento, comprou casa, tudo. Passa a vida esperando um momento que nem aquele.
Teve o musico também, que todo dia escreve uma valsa pra mesma mulher. Já tem mais de oitenta valsas. Só falta encontrar a mulher.
Esquisito foi aquele lá, que se apaixonou pela paciente. Passavam horas conversando, ela contando da vida dela, ele ouvindo. Toda semana, no mesmo dia, no mesmo horário. Um dia ele se decidiu, largou a família, abandonou a psiquiatria e foi viver com ela no quarto do manicômio.
E o casal de velhinhos? Tiveram um casamento arranjado, passaram a vida inteira juntos a contragosto. Nem se falavam. Jantavam em silêncio, ela via novela, ele lia o jornal. Passaram quarenta anos morando juntos, se ignorando em completa harmonia. Semana passada descobriram que se amam. Deu uma confusão danada. Parece que até sexo começaram a fazer.
E teve o garoto que descobriu que a namorada tinha um caso com o melhor amigo. Dez anos depois, ficou milionário e se mudou pra Paris. Só de birra.
O mundo é um dos piores lugares do mundo pra se apaixonar.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Santos No 3 (a dançarina)
Que só ela sabe ouvir
Entre a angustia e a euforia
De não saber a nota a vir
Se rodopia solitária
Sozinha se enlaça
Indignando ao seu redor
Essa gente tão sem graça
Meio erótica, seduzindo
Vai deixando-se levar
Se afastando, as vezes rindo
Pra depois se aproximar
Tecendo um tango ao som de bossa nova
Um bolero rock n roll
Puxando gente pra dançar
Depois que a musica acabou
E as vezes parece meio perdida, essa menina
Vez ou outra seu olhar tão confiante vacila
E se revela assustado, errante, carente, sozinho
E quase ninguém vê...
Mas continua a sua dança, com esse jeito de criança
Meio menina ou mulher, sem saber bem o que é
Esperando um dia, talvez, quem sabe, por que não?
Achar o ritmo certo, e encaixar seus passos na canção
Santos No 2 (trem da meia noite)
Bem pra lá do por-do-sol
Ele vem
apitando e chamando quem vem
Quem vem pro trem da meia noite
Esperando qualquer coisa
Nova nessa vida
Sem memória e sem história
E sem amor
Lá no horizonte
Bem longe da felicidade
Ele vem
apitando e chamando quem vem
Quem vem pro trem da meia noite
Esperando um sorriso
Há muito já perdido
Nas estradas e nas curvas
Desse trem
Santos No 1
A gente não se encontra
Numa tarde fria e chuvosa
Nas esquinas de Paris
Ou então, melhor ainda, minha linda
Será que a gente não se encontra
No lançamento daquele livro ou daquele filme
Que eu falei, falei e nunca fiz
Quem sabe numa meia noite qualquer
Num boteco aí da vida
Eu não cruze o olhar com o teu
Quem sabe, minha querida?
E aí a gente volta um pouco pro passado
Cruza a madrugada de braço dado
E eu faço juras de amor, sem verdade alguma
Antes que você suma
E de manhã tudo volta ao normal
Minha esposa, minha vida banal
E você vai pra esse lugar aí que eu não sei
Porque eu já procurei, procurei, olhei e vasculhei
O mundo inteiro a tua procura
E nunca mais te achei
sábado, 17 de dezembro de 2011
Pedaços
Comecei com coisas banais. Aquela blusa velha, de dormir, que você esqueceu aqui. Joguei no lixo. Apertei ela contra o peito um pouco, confesso, fechei os olhos e lembrei um pouquinho de uma ou duas noites que acordei do teu lado, você usando esse trapo colorido, meio rasgado, o rosto meio amassado de sono, e eu ali, sorrindo que nem bobo, procurando no mundo inteiro que habita minha cabeça por alguma coisa mais bonita do que seu mau humor matinal.
Depois veio aquele disco que eu enchi com musicas nossas, lembra? Lembrei daquela noite que a gente deixou rolando e dançou na cozinha, ao redor da mesa de jantar, apoiando um a cabeça no ombro do outro, e esquecemos a carne no forno, e quando a gente foi ver a cozinha tava cheia de fumaça. Foi pro lixo também.
Tinha aquele pente seu, aqui no armário do meu banheiro, também. Esse foi difícil. Lembrei de você na ponta dos pés, eu de cara fechada, emburrado porque a gente ia chegar atrasado. E você ali, se equilibrando no pé direito, mexendo o cabelo de um lado para o outro, ignorando minhas frases baratas de galanteador, falando que você não fica mais linda do que já é.
E aquele vestido vermelho seu, que acabava no joelho, e eu te fiz jurar que só usaria uma vez comigo, na noite que você preferisse, e que essa noite seria a mais especial da nossa vida. Peguei ele com cuidado, levemente consciente de que ele nunca foi usado, e, enquanto colocava ele pro lado, pensei que era meio triste que essa noite mais especial da nossa vida, a gente nunca tenha encontrado. Tai uma coisa que eu gostaria de ter guardado.
Depois veio seu sorriso. Sentei numa velha poltrona aqui da nossa antiga casa, peguei aquela foto sua que eu adoro, que você sorri que nem boba, nem me lembro do porque, e fiquei olhando pro teu sorriso até ele perder o significado. Demorou. Comecei esquecendo o jeito como o canto dos seus olhos se enrugavam e eles quase fechavam, quase que dando espaço, envergonhados de dividir o mesmo rosto com um sorriso tão bonito. Passou.
Teu olhar deu trabalho, confesso. Nenhuma fotografia consegue capturar um olhar, tive que dilacerar aquele jeito de você me olhar, entre o ciúme e a timidez, sozinho, sem ajuda. Pensei nele, pensei em como você me olhava quando eu te surpreendia com alguma besteira romântica, quando você desconfiava de mim e fingia um ciúmes de piedade, só pra me deixar feliz. Pensei naquele primeiro olhar, o primeiro em que eu reconheci alguma coisa a mais do que amizade. E pensei no ultimo também, carregado de tristeza, de arrependimento e de culpa. Mandei todos eles embora.
Depois vieram as memórias. Fui destruindo uma a uma. Tive a ajuda de uma ou outra companhia, algumas garrafas e um pouco de lágrimas. Mas, depois disso tudo, acho que consegui jogar fora também todos aqueles momentos juntos, aquelas tardes bobas vendo filme bobo na televisão, aquele abraço em silencio, deitados na cama, rosto no rosto, só sendo feliz e nada mais. Até das brigas foi difícil se livrar. O jeito como a gente se desentendia, ficava emburrado, os dois pensando a mesma coisa por horas, até algum ter coragem de dizer: “deixa de besteira.”
Mas acho que o mais difícil de tudo eu deixei pro final. Acho que o mais difícil, afinal, foi tirar essa parte de você que ficou em mim. Que não são os olhares, os sorrisos, os pentes ou os discos. O mais difícil, o que eu temo que talvez nunca vá embora, é esse pedacinho dentro de mim que mudou de nome. Tem teu nome agora, age como você, fala como você. Não sei o que fazer com ele. As vezes nem sei quem esta no controle. Esse texto aqui, nem sei se sou eu ou você escrevendo.
Não sei o que fazer com ele. Ele é seu, logo tem que ir embora, junto com todo o resto. Mas ele é meu também. Ele vive em mim, e como é que eu posso me livrar de mim mesmo?
Acho que é isso que é o que esse pessoal aí pelas ruas chama de amor né? A gente nunca se deu ao trabalho de entender, porque estava muito preocupado sentindo. Mas agora, acho que posso dizer, com o máximo de certeza que jamais vou poder, que amor mesmo é esse pedacinho de “eu-você-eu-você” que ficou grudado, e que, pro bem ou pro mal, fez de mim um pouquinho mais como você.
Mãos Entrelaçadas
Eu estava sentado ali num cafezinho no Quartier Latin, sozinho, esperando meu café chegar. Devia ser um pouco antes do entardecer. Lembro que o lugar estava cheio, casais americanos e grupos de estudantes universitários parisienses blasé trocavam palavras em francês entre goles de vinho e tragos de cigarro. Todo o ambiente era meio amarelado, com luzes indiretas, bem europeu, assim. Nevava um pouco lá fora. Eu me concentrava no meu livro, estava lendo alguma coisa grega, não lembro se Platão ou Sófocles. Eu gostava muito de ler, naquela época. Hoje não consigo mais, nem com esses óculos imensos que eu uso. Da muito trabalho. Ser velho da muito trabalho.
Mas naquela época eu era novo. E estava lendo Platão. E ela entrou.
Nunca vou saber dizer se o arrepio que eu senti foi o vento gelado invadindo o ambiente aquecido do café ou a visão daquela mulher. Um vestido vermelho, meia calça preta, cachecol e um gorro. O cabelo meio repicado caia, assim, de dentro do gorro, sabe? Ia escorregando de dentro até um pouco abaixo do ombro. Foi amor a primeira vista, meus amigos, amor a primeira vista. Ela olhou em volta um pouco (seus olhos verdes, ah, as morenas de olhos verdes), escolheu uma mesinha de um lugar do outro lado da sala e sentou. E eu não ia falar com ela, juro que não. Sempre tinha sido um homem fiel, e nunca fui muito bom em abordar mulheres, ainda mais as francesas. Mas aí ela acendeu um cigarro e puxou um livro. O mesmo que o meu. Sófocles. Não tive escolha.
Olha, não lembro o que eu falei nem como eu consegui lembrar das minhas aulas de francês da faculdade, só sei que, quando eu fui ver, estávamos os dois discutindo a dramaturgia grega e seus efeitos no mundo moderno, e daí pra falar de amor, vocês sabem, é um pulo. Ah, vocês não sabem? É que hoje em dia ninguém fala de dramaturgia grega, né? Ah, ninguém fala de amor também? Bom, naquela época falavam, e a gente começou a falar de amor. Não lembro muito do que a gente discutiu, não só por causa da minha idade, mas principalmente por que eu não conseguia me concentrar muito no que ela falava, só no jeito que a boca dela se mexia, e na forma como os olhos dela se fechavam, assim, só um pouquinho, quando falava alguma coisa que julgava importante. Ah, meus amigos, se vocês pudessem ter visto...
Não lembro quem sugeriu uma volta pela cidade. Acho que fui eu. Ela hesitou um pouco, mordeu os lábios (ah, menina, menina) mas aceitou. Pagamos e fomos andar por Paris.
O sol estava se pondo. Vocês já andaram em Paris ao pôr-do-sol com uma mulher maravilhosamente linda que acabaram de conhecer e se apaixonar? É uma coisa que todo homem deveria experimentar.
Andamos e falamos de tudo o que você possa imaginar. Lembro até de uma discussão acalorada sobre a comida certa a se servir durante uma reunião clandestina de revolucionários. Eu era a favor de canapés, mas ela achava muito burguês.
Chegamos ali na beira do Sena. O Sena ainda existe? Faz tanto tempo...Ah, existe? Mas duvido que seja tão bonito quanto naquela época.
Chegamos ao Sena e começamos a andar na beira do rio. A luz do sol agora pintava timidamente de amarelo um ou outro ponto da cidade só, o alto de alguns velhos edifícios, e fazia as marolas do rio brilharem de um jeito fosforescente, parecendo...parecendo...sei lá, parecendo alguma coisa muito bonita que eu não consigo pensar agora.
E aí a gente foi atravessar a ponte. Ah, esse momento eu não esqueço não, rapazes. Posso esquecer de tudo nessa vida, nem sei quantos remédios eu tenho que tomar por dia hoje, mas não vou esquecer da hora em que a gente foi cruzar a ponte. O que? Que ponte que era? Sei lá que ponte que era, isso já faz quarenta anos, uma daquelas pontes que cruzavam o Sena, oras. Deixa eu contar a história.
Então, a gente foi atravessar a ponte, e eu lembro que ela dissertava a respeito da poesia concreta (lixo modernista ou vanguarda mal compreendida?), e aí ela parou ali no meio da ponte. Mas calma, não foi só isso. Ela foi ali até a beirada, virou de frente pra mim, e, assim, virada de costas pro água, colocou as duas mãos no parapeito da ponte e deu impulso. E sentou ali. Sentou ali no parapeito! Vocês entendem? Vocês entendem a beleza dessa cena? Paris ali no fundo, o rio passando fazendo aquele barulho que um rio faz quando passa, Paris acontecendo ali em volta da gente, e ela se virou, deu um pulinho e sentou no parapeito! E ficou balançando as perninhas ainda! Aí eu tive que beijá-la. Vocês entendem, né? Entendem.
Cheguei perto e interrompi o monólogo dela (porque, se você parar pra pensar, na verdade, verdade, a poesia livre é isso mesmo, agora, o quão livre a gente quer que ela seja?). Não tinha encostado nos lábios dela ainda, fiquei só com a boca ali, do lado da boca dela, e ela parou de falar. Parou de falar e entrelaçou os braços entre meu pescoço. Sabe, quando elas fazem isso? Apóiam um braço em cada ombro seu e entrelaçam o pulso atrás do seu pescoço?
E aí eu beijei ela. Olha, não vou nem tentar descrever pra vocês, porque vai ser uma perda de tempo. Só vou falar isso: Não sei o que me deu naquele momento, que eu abri os olhos, só por um segundo, ali, no meio do beijo. Eu sei, eu sei, não é muito romântico, mas eu precisava ter certeza de que tudo aquilo era real. E tinha acabado de anoitecer. Naquela época, não sei hoje, mas naquela época a Torre Eiffel costumava ficar toda iluminada com o cair da noite. Se eu falar pra vocês que no momento que eu abri os olhos a Torre Eiffel se iluminou todinha, vocês acreditam? Pois é verdade. Ali estava eu, beijando aquele anjo, aquele sonho europeu em roupas de frio, e ali na minha frente tinha o rio sena, com seus barquinhos restaurantes iluminados passando pra lá e pra cá, e a neve fininha caindo na cidade, e, lá, quase no horizonte, a Torre Eiffel brilhava. Brilhava! Olha só, fiquei até arrepiado, não gosto de lembrar dessas coisas.
Não sei quanto tempo a gente ficou ali naquele beijo. Pode ser durado uns vinte anos, nunca vou saber. Mas eu sei que acabou. Sei que acabou porque eu me afastei e ela desceu do parapeito (outro pulinho, meu Deus, outro pulinho) e eu vi que ela chorava. Perguntei o que
tinha acontecido. Ela olhou pra mim com aqueles olhos vermelhos e verdes e disse que era casada. Eu também era (“eu sei, eu sei, eu já imaginava”). Ficamos ali se olhando em silêncio.
Eu disse que era brasileiro, que estava em Paris a viagem só, que ia voltar na semana seguinte (“eu sei, eu sei, eu já imaginava”) e voltamos ao silêncio.
E em silêncio caminhamos de volta a vida real. Ela morava ali perto do café.
Deixei ela na porta de casa, me aproximei para um ultimo beijo mas ela me afastou, sem dizer nada. Olhei pra baixo e me virei para ir embora, quando ela disse: “São Paulo, né?”
Eu perguntei “O que?”
“Você é de São Paulo, não é?”
Eu fiz que sim. Ela sorriu, se aproximou e sussurrou no meu ouvido: “qualquer dia desses passo na tua cidade, e te encontro num café.” Roçou os lábios nos meus uma ultima vez e virou as costas, não sem antes deixar escapar uma ultima fungada.
E é por isso que eu estou aqui, meus amigos.
Desde que voltei pra cá, toda semana eu passo em um ou dois cafés parecidos com aquele, parecidos com esse, procurando meu amor parisiense. Fico, leio esse livro aqui do Platão, o mesmo que eu estava lendo naquela noite, e espero. Tenho feito isso a mais de quarenta anos. Eu sei, eu sei, vocês já estão fechando, eu estou indo embora. Não foi dessa vez. Mas um dia, meus amigos, um dia ela vai entrar por aquela porta. Ou por alguma outra porta de algum outro café. E a gente vai terminar aquele assunto da poesia concreta.
Os garçons olhavam em silêncio enquanto o velho fechava seu livro e, com dificuldade, se levantava da cadeira para ir embora. Quando ele saiu e desapareceu na noite, Patrícia, a mais nova das garçonetes, não conseguiu segurar um soluço.
-Que história triste.
-É, o amor é uma coisa engraçada, né? – Disse Paulo, o barman, meio sem graça.
Todo mundo ficou ali parado um tempo, sem conseguir juntar a coragem de continuar arrumando as coisas e fechar o bar. Foi aí que entrou uma velhinha pela porta da frente.
-Desculpe, senhora, estamos fechando...
-Ah, me desculpa viu, estou procurando alguém. Um homem, mais ou menos a minha idade, devia estar lendo um livro. Ele não esteve aqui hoje não, né?
Silencio geral. A Patrícia emitiu um som esquisito, entre a risada e o choro, e saiu correndo pro banheiro.
Foi o Paulo que tomou coragem pra perguntar:
-Desculpa, mas...Você não é a moça francesa, é?
Até o vento parecia ter prendido a respiração. A velha olhou em volta, para todos os funcionários de boca aberta do café. Fechou os olhos, apertou-os com força e deu uma risada.
-Ai, meu Deus, foi essa a história que ele contou dessa vez?
Olhares intrigados.
-Meu marido é um escritor falido. Tentou a vida inteira publicar um romance e nunca conseguiu. Escreve mal que dói, coitado. Mora aqui por perto. Toda semana ele vem em algum lugar desses e conta uma história de um dos seus livros engavetados. A favorita dele é a da moça francesa que sobe no parapeito. Foi essa que ele contou, né?
Ninguém falou nada.
-Ai, ai, desculpa viu? O coitado nunca saiu do estado de São Paulo, e vem encher o saco de gente de bem que nem vocês, que só quer trabalhar e ir pra casa. Ele foi embora, foi? Deve estar chegando em casa agora, então. Desculpa incomodar, viu?
E, sem dizer mais nada, a velha deu meia volta e saiu pela porta.
Todos em silêncio. Quando alguém ia fazer algum comentário, Patrícia voltou, limpando as lágrimas.
-Onde está ela? Era a moça mesmo? Era ela, a francesa? Ela encontrou com ele?
Foi Paulo que, depois um longo silêncio constrangedor, passou os braços pelo ombro de Patrícia, abriu um grande sorriso e disse:
-Ela mesmo. O Marcos foi com ela na rua, encontraram o velho ali na esquina. Ele disse que foi lindo os dois se reencontrando.
Patrícia virou para o Marcos, encantada e perguntou:
-Foi mesmo, foi mesmo?
Marcos, sem graça, entrou no jogo:
-Foi, sim. Precisava ver, deram um beijo desses de cinema. Ela na pontinha do pé, ele segurando o cabelo dela, uma mão na cintura. Beijo de cinema.
-E ela entrelaçou os braços ao redor dele?
-Entrelaçou, entrelaçou.
Patrícia não conteve o choro de novo, e, com o rosto dividido entre o sorriso e as lágrimas, começou a ajudar o pessoal a limpar o café para o dia seguinte.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Quem sabe um dia
E sentar e rir e relembrar, no meio disso tudo até encontrar, com um pouco de vergonha no olhar, uma forma de se perdoar?
E olhar pra trás com um carinho, que ficou pelo caminho, assim, pra não perceber sozinho, como tudo foi mesquinho?
De repente até dizer, sabe, eu fiz por merecer, e quem vai responder, deixa disso, já passou da hora de esquecer...