Escrevia textos e mandava pra ela. Pequenas fábulas de amor. Confissões, na verdade, que ele não tinha coragem de falar abertamente. Ela lia e dizia que gostava, sem entender que as histórias eram cartas de amor disfarçadas. Um dia, ele tomou coragem e resolveu abrir o jogo. Mandou um conto pra ela, que era mais ou menos assim:
Existia um garota, e um garoto apaixonado por ela. Ele vivia escrevendo histórias de amor e ela vivia lendo-as, sem nunca entender quem era a verdadeira estrela de sua literatura. Um dia, o garoto tomou coragem e mandou uma história diferente. Uma história de um garoto que escrevia textos de amor para a garota que amava, porque não tinha coragem de se declarar. Ele espera uma resposta.
Quando leu o texto, a menina ficou encantada, porque a verdade é que ela sempre gostou dele, mas também nunca teve coragem de falar nada. Se imaginava a estrela de todas as lindas histórias de amor que ele escrevia, mas nunca supôs que de fato fosse! Animada, resolveu continuar a brincadeira e mandou um texto para o garoto:
Existia um garoto, e uma garota apaixonada por ele. Ele vivia escrevendo histórias de amor e ela viva lendo-as, sem nunca entender quem era a verdadeira estrela de sua literatura. Um dia, o garoto tomou coragem e mandou uma história diferente. Uma história de um garoto que escrevia textos de amor para a garota que amava, porque não tinha coragem de se declarar. E ela resolveu responder. Escreveu uma história sobre uma garota que amava um garoto, e, quando descobriu que ele também a amava, foi correndo até a casa dele, tocou a campainha e esperou que ele saísse e a tomasse nos braços e beijasse sua boca.
Quando leu a história da menina, o garoto ficou encantado, não só com o fato de seu amor ser correspondido, mas também com as habilidades literárias até então desconhecidas de seu grande amor. Animado, pegou a caneta e começou:
Existia um garoto, e uma garota apaixonada por ele. Quando ela descobriu que o amor era recíproco, resolveu bater na porta na casa dele, esperando que ele a tomasse nos braços e beijasse sua boca.
Quando abriu a porta e viu aquela menina linda, o amor da sua vida, ele abriu um grande sorriso e disse:
-Eu te amo, estou tão feliz que você está a...
-Perai. – Respondeu a menina, subitamente.
-O que foi?
-Isso não é real.- Ela olhava em volta, confusa, como se algo estivesse muito errado.
-Como assim, não é real?
-Isso aqui não é a vida real. A gente está na história do menino.
-História do menino? – Ele, agora, olhava em volta, também confuso.
-É. O menino escreveu uma história sobre um menino que escreve uma declaração de amor em forma de história para a menina, certo?
-Certo, certo.
-Então a menina respondeu, e escreveu a história de uma menina que recebe do menino um texto, que conta a história de um menino que escreveu uma história sobre um menino que se declara para uma menina através de uma história, e ela resolve bater na porta dele para que ele saísse e a tomasse nos braços e beijasse sua boca.
-Então...A gente está na história da menina, não?
-Não, não – Ela parecia agitada, agora – Porque o menino respondeu. Essa é a resposta do menino. O menino recebeu uma resposta para sua declaração e resolveu escrever uma história. É essa a história que a gente está agora.
-Meu Deus. – Ele estava muito confuso agora.
-Precisamos sair daqui, rápido, vem comigo.
-Pronto, aqui acho que estamos seguros. – Disse ela, segurando sua mão.
-Que lugar é esse? Não parece a vida real. – Ele começou a olhar em volta e, de repente, exclamou – Ah, não, isso aqui é o jardim da minha casa! A gente está na história da menina!
-A história da menina? A da campainha, da porta e do beijo?
-Isso, isso! Olha só, aquela ali é a porta da minha casa. – Disse ele, apontando para frente.
-E agora? O que a gente faz? Precisamos sair ficção, precisamos ir para a vida real!
-Eu tenho uma idéia, rápido, por aqui.
-Onde estamos agora? – Perguntou ela.
-Eu não sei. Parece um quarto, está tudo muito escuro. Deixa eu acender a luz.
Ela piscou algumas vezes, olhou em volta e deu um pequeno grito de alegria. – Esse aqui é o meu quarto! Acho que agora estamos na vida real!
Mas ele não parecia convencido. – Espera...Tem alguma coisa estranha ainda. – Ele olhou em volta, e de repente apontou para um canto do quarto. – Nada disso! Olha só aquela escrivaninha com um papel e uma caneta! Essa aqui é a primeira história da menina!
-Primeira história?
-É, lembra da resposta da menina? Não era sobre uma menina que recebe uma declaração e vai tocar a campainha do menino. Era sobre uma menina que escreve a história de uma menina que recebe uma declaração e vai tocar a campainha do menino! Essa é a história que a gente está! Por isso a escrivaninha. Você deveria estar sentada ali escrevendo sua história. E eu nem deveria estar aqui!
-Meu Deus, e agora?
-Vem comigo!
Ela fez menção de ir, mas de repente parou. – Espera.
-Espera o que, a gente precisa sair daqui!
-Precisa mesmo? Eu nem lembro se gostava de você na vida real. Vai que foi só algo que você escreveu?
-Oras, se é assim, eu não sei se gosto de você na vida real também. Pode ser tudo coisa de um texto seu.
-Então porque a gente não fica por aqui, mesmo?
-Por aqui?
-Vem comigo. – E ela puxou o menino pelas mãos e o levou até a escrivaninha. Sentou-se e, com ele em pé ao lado, pegou a caneta e disse – Vamos passear por aí.
E começou a escrever a história de um menino que faz uma declaração para uma menina, que responde com uma história sobre uma menina que escreve um texto sobre uma menina que ama um menino, e então...
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