quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pipoca


- PUTA QUE O PARIU, EU AVISEI QUE IA DAR MERDA – Disse o homem das cavernas para o amigo, quando o primeiro milho explodiu em uma misteriosa e macia bolinha branca.
-CARALHO, CARALHO, QUE PORRA É ESSA? – Gritava, em resposta, o outro, enquanto mais e mais bolinhas brancas pipocavam do fogo.
Saíram os dois correndo, e ficaram observando, de trás da árvore.
-Vai lá ver, acho que parou. – Disse um deles, depois de um tempo.
-Vai você, a ideia foi tua.
Cuidadosamente, o homem, peludo e pelado, foi até perto da fogueira. Várias das bolinhas brancas estavam espalhadas em volta do fogo. Com cuidado, pegou uma na mão.
-E aí? – Gritou o outro, de trás da árvore.
-É macio. Vem ver.
O outro chegou perto e ficou olhando.
-Come.
-Pra puta que te pariu. Come você.
-A ideia foi tua. Agora a gente ta sem milho e sem comida. Come, vê se é de comer.
O outro hesitou, depois disse – Não tem cara de ser de comer.
- As vezes é, pô. Come logo.
-Se der merda...
-Não vai dar merda, come essa porra!
O homem fechou os olhos e colocou a bolinha na boca.
Mastigou de olhos fechados por um tempo, depois disse:
-Falta sal.
-O que?
-Nada, deixa quieto. Da pra comer sim, pega uma. – E ofereceu outra, do chão, para o amigo.
-É, é de comer mesmo.
Comeram em silêncio por um tempo. Depois, o primeiro falou:
-Porra, que esquisito.
-Não é? Te faz pensar...Deve ter tanta coisa boa pra comer aí que a gente ainda não descobriu...
Silêncio por mais um tempo. O outro fala:
-E aquela gosma branca que sai da teta dos bichos, será que da pra beber?
-Porra, tu é nojento pra caralho, hein? – Disse o outro, e foi embora inventar o sal.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Campeão


 A porta se escancara e os dois entram, entrelaçados, aos tropeços. Ela empurra seu corpo para a cama com violência, tira a blusa e deita em cima dele. Marcelo vira rapidamente seu corpo, de modo a ficar por cima, e sussurra em seu ouvido: - O que você quer?
Isabela responde – Quero você. – Enquanto tenta tirar a camisa dele.
-Quer o que de mim? Fala, vai. – Marcelo sussurra bem baixo no ouvido dela.
-Quero que você faça amor comigo. Quero fazer sexo com você.
-Tem certeza? – Marcelo agora levanta o rosto, de modo a olhar nos olhos de Isabela.
-Sim, tenho certeza.
-Você quer fazer sexo comigo?
-Quero, Marcelo, vem, eu quero fazer sexo com você.
Marcelo para de se mexer. Calmamente, ele rola para o lado, se afastando de Isabela, e começa a se levantar. Finalmente, fica em pé na cama. Isabela nota que ele está chorando.
-CONSEGUI, PORRA!
-O que? – Isabela começa, mas não chega a terminar. A porta do armário se abre, e vários homens saem de lá de dentro.
- MEU DEUS! MARCELO, QUEM SÃO...Edu? Chico? – Isabela nota que são antigos amigos, da época de colegial dela e de Marcelo.Todos tem a mesma expressão no rosto, de emoção, de conquista. Alguns choram.
- Gente, - Começa Marcelo, de cima da cama - eu queria agradecer muito a todos vocês por estarem aqui. É uma honra dividir esse momento. Dudu, Johnny, Ervilha, Panco, vocês nunca duvidaram de mim. Sempre souberam que eu ia chegar lá.
Os homens aplaudem, dão vivas. Alguém tira um rádio de bolso do casaco e a música tema de Rocky começa a tocar.
-Marcelo, o que está acontecendo?
-Essa conquista não é só minha. É de todos vocês. De você, Dudu, que comprou um álbum do Creed uma vez, só pra tentar impressionar a Angélica. Ervilha, que roubou o terno Armani do pai e ficou quatro horas no supermercado, pra depois fingir que encontrou a Letícia por coincidência. Essa noite é pra todos aqueles que sonharam em comer a gostosa do colegial. O sonho é possível, o sonho é real. Vocês ouviram, ela falou “eu quero fazer sexo com você.” – E depois, de novo, reforçando o “você” – EU QUERO FAZER SEXO COM VOCÊ!”
Aplausos, vivas. Johnny pula na cama e derruba Marcelo com um abraço, gargalhando de emoção. Dudu comenta, limpando as lágrimas – Ele merece, ele merece...
- Eu não sei que tipo de palhaçada está acontecendo – Isabela começa, recolhendo suas roupas – mas você não ganhou nada. Nada, ta entendendo? Eu não fiz sexo com você, e eu nunca vou fazer sexo com você, Marcelo!
Mas eles não estão mais ouvindo. Alguém desencavou uma faixa de “CAMPEÃO”, e agora Ervilha e Panco colocam Marcelo no ombro de Dudu, para receber a faixa. Ao sair pela porta, Isabela ainda consegue ouvir os gritos de MAR-CE-LO, MAR-CE-LO, e vai embora, já com meia cabeça formada pra virar lésbica.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Estrada



(...)E eu sempre gostei de estradas, tem isso. Existe algo em uma estrada à noite, no prazer de se apoiar a cabeça no vidro de um ônibus e ver quilômetros e quilômetros de mato passando rápido por você, como num sonho. Nem uma alma a vista por horas e horas, só o barulho das pessoas dormindo, levantando para ir ao banheiro, virando páginas de suas revistas velhas. É poético, é bonito. É besta, eu sei, mas quando eu era criança e eu ia viajar, eu via aqueles descampados, aquelas florestas escuras, e eu ficava imaginando como seria se eu saísse do carro naquele momento e começasse a correr em direção a essa vastidão toda que eu via do outro lado da janela. Simplesmente correr e me perder naquela paisagem. Ficar ali pra sempre. Eu construiria uma cabaninha, faria uma fogueira no fim da noite e, sei lá, ficaria ali, sendo feliz. Às vezes eu ainda penso nessas coisas. Mas, acho que, se eu fosse fazer isso hoje em dia, levaria uma garrafa de alguma coisa. Whisky, ou até algumas cervejas. Sabe, só para o caso das coisas ficarem entediantes.(...)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Por que?

Por que dizer que me ama?
Se o amor é tão mais bonito a distancia

Por que me dizer teu nome?
Se podemos ser pra sempre só eu e você

Toda história que vale a pena ser ouvida tem seu fim
E ninguém sabe o que acontece depois
De felizes para sempre

Por que? Se nenhum por-do-sol é completo e tão bonito
Sem o anoitecer depois

Por que? Se não houver um retorno não existe uma partida
Não é viagem, é só a vida, todo dia é só a vida

E se nossa vida tem um fim, se nosso tudo vira nada
Por que pedir mais da nossa história?

Nenhum amor é tão completo e verdadeiro
Antes de vivar memória

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sing You To Sleep





He promissed her dreams
Like the ones from the books
That she read as a child
In front of the fire

He gave her romance
With the taste of champagne
A midnight kiss on the beach
Leaving footsteps behind

The look in her eyes
When he told her goodbye
Was like fire underwater
Burning despite the absurd

Now when she comes
To her old empty house
No kisses, no dreams
Greet her at the door

And she says she's ok
And he's out of her mind
Found a man she could trust
And left his memory behind

But to this day she can't hear
That song that he sang
Everynight by her side
Just before she would sleep

I heard he's sorry he left
And life hasn't been sweet
And that he misses those days
When he would sing her to sleep

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Loveless Dance


If only there was a way back on this road
If only I could remember
Every wrong turn we took together
I'd lead us back

Is there a place where the broken love songs
And stories and hearts go
When no one wants them anymore?
Will our kisses all wind up there?

So don't think about a thing baby
Just stay here, pretend you still love me
I'll pretend I still love you
One more time, one more time

So we keep this dance, just for us
I'm not hoping love will come back
It's gone for good I know
I just need a memory

To justify my smiles and my joy
In a few a years, seems so wrong
To be alright without you
To go on and find happiness, somewhere else

So we keep this dance, this loveless dance
As a token, a broken picture of our love
That we can take a look every now and then
When it's over, and say it was worthed, while it was

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Bonde/Sonhos

Foi num bonde que cruzava essa mesma praça
Que eu a vi partir
Meio sorriso, meio choro, ensaiando um desespero
Que estava ainda por vir

Sonhamos uma vida juntos toda noite todo dia
Para sempre e até o fim
Mas qualquer dia sem eu perceber ela pegou no sono
E deu pra sonhar sem mim

E foi acalentando aqueles sonhos tão pequenos, tão miudos
Que sonhou pra si e só pra si
E os meus sonhos eram todos dela,mas os dela eram só dela
Como foi que eu não vi?

Depois que ela se foi me vi tão solto e tão perdido
Sem saber o que fazer
Com todos esses sonhos que ela não quis mais
Que eu criei e vi crescer

Um a um fui vendo eles cairem, doentes, moribundos, sem carinho e sem amor
Negados pela mãe, esquecidos para o pai
E não sobrou nenhum motivo pra fechar os olhos
Quando escurece e a noite cai

E hoje eu espero esse bonde, que faz tempo não existe mais
Cruzar essa mesma praça, esse mesmo lugar
E trazer de volta para mim, depois de anos e anos sem fim
Os sonhos que eu tanto quis sonhar

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Voltar


Um dia ele saiu e demorou para voltar
Eu disse, preocupada ao ver ele chegar
Meu amor, meu amor só me prometa
Que nunca vai me abandonar

Ele riu, olhou pra mim e disse "pare de chorar"
E disse me abraçando "sempre que me ver partindo
Pode ter certeza, certeza
Eu sempre vou voltar"

Voltar para teus braços,
Teu jantar na nossa mesa
Nossos filhos, nossa vida
Você pode ter certeza

Voltar para teu olhos
Meu futebol, tua novela
Se eu vou embora, meu amor
Eu volto, só me espera

Por isso, moço, me perdoe
Mas essa dança, eu não posso lhe dar
Estou jurada, prometida
Esperando ele chegar

Não adianta, não tem jeito
Eu sei que ainda vai ele voltar
Muitos anos, se passaram, eu sei
Mas ele me disse pra esperar

domingo, 20 de maio de 2012

#1

Jamais a tua presença
Foi tão presente
Quanto hoje é tua ausência

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Era uma vez...


Era uma vez uma rainha muito, muito bela, porém, muito triste. Ela era senhora de todo um reino grande e vasto e sua beleza causava inveja em todas as mulheres e desejo em todos os homens, porém, ela não podia ser feliz. Acontece que esta rainha sofria de uma séria condição mental, que só foi diagnosticada e classificada muito anos depois de sua morte, chamada Transtorno de Personalidade Narcisista. A pobre rainha era terrivelmente insegura, e lhe causava imenso mal estar e tristeza pensar que alguém poderia ser mais bonita que ela. Ela precisava ser a mulher mais bonita de seu reino, era a única forma de conseguir ser feliz. Olhava as pessoas comuns, fazendo compras, andando pelas ruas, e pensava: “Porque eu não posso ser assim? Porque eu não posso ser feliz com o que sou? Porque eu preciso ser vista como a mais bela de todas, para não chorar todas as noites?” Ela não sabia que era uma pessoa doente, por isso, nunca soube que esses pensamentos não eram sua culpa.
Grande parte do sofrimento desta rainha era culpa de uma garota que vivia em seu reino, Branca de Neve. Branca de Neve era a única mulher mais bonita que a rainha, em todo o reino. E, apesar de estar plenamente consciente da deficiência de sua rainha, Branca de Neve insistia em exibir sua beleza aonde quer que passasse, seduzindo os homens, andando em roupas provocativas, fazendo o possível para aparecer mais do que a rainha, apesar de não sofrer da mesma horrível condição mental que sua rival. Por anos, a rainha aguentou calada, chorando noites sem fim por seu destino cruel, porém, sem nunca tentar nada contra Branca de Neve, apesar do tanto que sofria por conta dela. Um dia, em uma crise horrível de ciúmes e tristeza, a rainha não aguentou mais, e, cansada de viver lutando contra sua mente perturbada, mandou matar Branca de Neve. Para isso, enviou seu único amigo do reino (afinal, as pessoas tinham medo de se aproximar da “rainha louca”), um caçador das redondezas.
Qual não foi a decepção da rainha quando descobriu que a única pessoa que podia confiar, o único amigo que teve no reino (ao contrário de Branca de Neve, que era muito popular), traiu sua confiança, e não matou Branca de Neve? Branca de Neve havia, por conta própria, levado sua relativamente controlável condição mental a completa loucura, fazendo com que a rainha cometesse atos que outrora considerava impensável, como assassinato, e, além disso, seduzira e roubara o único amigo que a rainha jamais tivera em todos os seus tristes anos de vida.
Completamente perturbada, a rainha descobre que Branca de Neve está vivendo escondida, na floresta (mas não sem a companhia de sete “amigos”, que dividem a casa com ela), e, desesperada, resolve fazer um feitiço para transformar-se numa velha vendedora de frutas, para, assim, entregar uma maça envenenada para Branca de Neve, e, em seu delírio, finalmente conseguir ser feliz (fica claro, neste ponto da história, que Branca de Neve já havia levado a relativamente sã rainha a completa demência, pois em nenhum momento lhe ocorreu que, mesmo matando a garota, a rainha continuaria sendo uma velha horrível, e, nem de longe, a mulher mais atraente do reino).
Mas a pobre história de desgraça e traição da rainha não acaba aí. Seu plano para tirar de vez Branca de Neve se sua vida e poder finalmente ser feliz falha, pois Branca de Neve, ao invés de morrer, apenas cai em um sono profundo (da qual é rapidamente tirada por, que surpresa, mais um homem). Delirante e doente, a rainha vai embora gritando e cantando frases sem sentido, mas nem assim pode ter paz. Os sete amigos de Branca de Neve a encontram, andando sem rumo pela floresta, e, ao invés de levarem-na para um hospital ou casa de repouso, perseguem-na implacavelmente até um penhasco. Completamente louca, destruída e corrompida pela tristeza e pela culpa, horrivelmente deformada por seu feitiço, a uma vez bela e feliz rainha cai para o abismo em direção ao triste fim que lhe foi reservado por Branca de Neve, que viveu feliz para sempre por muitos e muitos anos com seu príncipe e seus amigos assassinos, sem nunca olhar para trás ou se arrepender pelas coisas que fez com sua rainha.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Agridoce

-E você superou completamente?

-Completamente.

-Assim? De um dia pro outro? Sem mais nem menos?

-Sem mais nem menos. Quer dizer, sem mais nem menos não. É só que eu percebi que esse vazio, esse falta que ela faz, isso não vai embora. Isso ficou dentro de mim e essa é a herança que eu tenho dessa pessoa que um dia foi tão importante pra mim. E, por mais que a sensação nunca deixe de ser...não é ruim a palavra...melancólica. Por mais que a sensação nunca deixe de ser melanc...agridoce! Nunca deixe de ser agridoce, a forma como eu me sinto em relação à sensação mudou. Parei de ver como um intruso, um inimigo, algo que me faz mal. Agora é só algo dela que ficou em mim, um pedaço, mais que uma lembrança, um verdadeiro pedaço de existência dela que eu vou guardar pra sempre dentro de mim. Em todas as noites que vão se seguir na minha vida, eu vou acordar sem ela lá, mas esse agridoce, essa sensação sem nome que vem quando eu penso nela, vai me trazer seu abraço, seu cheiro, o jeito como sua mão procurava meu corpo durante o sono, seus olhos de inocência quando acordava. Tudo isso está ali, no meio desse agridoce sem nome. É um absurdo pensar nisso como uma coisa ruim. Todas as alegrias e tristezas do nosso tempo juntos estão ali, dentro dessa sensação. Viu? Por isso agridoce! Tristezas e alegrias! Tudo isso está guardado pra sempre dentro de mim, um pedaço dela que se juntou a um pedaço meu pra se transformar em uma coisa nova, uma coisa sem nome, uma coisa linda que vive dentro dela e vive dentro de mim. E sempre vai viver.

-Seus olhos estão vermelhos.

-Pede outra cerveja. E vamos falar de futebol.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Metalinguisticas

Escrevia textos e mandava pra ela. Pequenas fábulas de amor. Confissões, na verdade, que ele não tinha coragem de falar abertamente. Ela lia e dizia que gostava, sem entender que as histórias eram cartas de amor disfarçadas. Um dia, ele tomou coragem e resolveu abrir o jogo. Mandou um conto pra ela, que era mais ou menos assim:


Existia um garota, e um garoto apaixonado por ela. Ele vivia escrevendo histórias de amor e ela vivia lendo-as, sem nunca entender quem era a verdadeira estrela de sua literatura. Um dia, o garoto tomou coragem e mandou uma história diferente. Uma história de um garoto que escrevia textos de amor para a garota que amava, porque não tinha coragem de se declarar. Ele espera uma resposta.


Quando leu o texto, a menina ficou encantada, porque a verdade é que ela sempre gostou dele, mas também nunca teve coragem de falar nada. Se imaginava a estrela de todas as lindas histórias de amor que ele escrevia, mas nunca supôs que de fato fosse! Animada, resolveu continuar a brincadeira e mandou um texto para o garoto:



Existia um garoto, e uma garota apaixonada por ele. Ele vivia escrevendo histórias de amor e ela viva lendo-as, sem nunca entender quem era a verdadeira estrela de sua literatura. Um dia, o garoto tomou coragem e mandou uma história diferente. Uma história de um garoto que escrevia textos de amor para a garota que amava, porque não tinha coragem de se declarar. E ela resolveu responder. Escreveu uma história sobre uma garota que amava um garoto, e, quando descobriu que ele também a amava, foi correndo até a casa dele, tocou a campainha e esperou que ele saísse e a tomasse nos braços e beijasse sua boca.



Quando leu a história da menina, o garoto ficou encantado, não só com o fato de seu amor ser correspondido, mas também com as habilidades literárias até então desconhecidas de seu grande amor. Animado, pegou a caneta e começou:



Existia um garoto, e uma garota apaixonada por ele. Quando ela descobriu que o amor era recíproco, resolveu bater na porta na casa dele, esperando que ele a tomasse nos braços e beijasse sua boca.

Quando abriu a porta e viu aquela menina linda, o amor da sua vida, ele abriu um grande sorriso e disse:

-Eu te amo, estou tão feliz que você está a...

-Perai. – Respondeu a menina, subitamente.

-O que foi?

-Isso não é real.- Ela olhava em volta, confusa, como se algo estivesse muito errado.

-Como assim, não é real?

-Isso aqui não é a vida real. A gente está na história do menino.

-História do menino? – Ele, agora, olhava em volta, também confuso.

-É. O menino escreveu uma história sobre um menino que escreve uma declaração de amor em forma de história para a menina, certo?

-Certo, certo.

-Então a menina respondeu, e escreveu a história de uma menina que recebe do menino um texto, que conta a história de um menino que escreveu uma história sobre um menino que se declara para uma menina através de uma história, e ela resolve bater na porta dele para que ele saísse e a tomasse nos braços e beijasse sua boca.

-Então...A gente está na história da menina, não?

-Não, não – Ela parecia agitada, agora – Porque o menino respondeu. Essa é a resposta do menino. O menino recebeu uma resposta para sua declaração e resolveu escrever uma história. É essa a história que a gente está agora.

-Meu Deus. – Ele estava muito confuso agora.

-Precisamos sair daqui, rápido, vem comigo.



-Pronto, aqui acho que estamos seguros. – Disse ela, segurando sua mão.

-Que lugar é esse? Não parece a vida real. – Ele começou a olhar em volta e, de repente, exclamou – Ah, não, isso aqui é o jardim da minha casa! A gente está na história da menina!

-A história da menina? A da campainha, da porta e do beijo?

-Isso, isso! Olha só, aquela ali é a porta da minha casa. – Disse ele, apontando para frente.

-E agora? O que a gente faz? Precisamos sair ficção, precisamos ir para a vida real!

-Eu tenho uma idéia, rápido, por aqui.



-Onde estamos agora? – Perguntou ela.

-Eu não sei. Parece um quarto, está tudo muito escuro. Deixa eu acender a luz.

Ela piscou algumas vezes, olhou em volta e deu um pequeno grito de alegria. – Esse aqui é o meu quarto! Acho que agora estamos na vida real!

Mas ele não parecia convencido. – Espera...Tem alguma coisa estranha ainda. – Ele olhou em volta, e de repente apontou para um canto do quarto. – Nada disso! Olha só aquela escrivaninha com um papel e uma caneta! Essa aqui é a primeira história da menina!

-Primeira história?

-É, lembra da resposta da menina? Não era sobre uma menina que recebe uma declaração e vai tocar a campainha do menino. Era sobre uma menina que escreve a história de uma menina que recebe uma declaração e vai tocar a campainha do menino! Essa é a história que a gente está! Por isso a escrivaninha. Você deveria estar sentada ali escrevendo sua história. E eu nem deveria estar aqui!

-Meu Deus, e agora?

-Vem comigo!

Ela fez menção de ir, mas de repente parou. – Espera.

-Espera o que, a gente precisa sair daqui!

-Precisa mesmo? Eu nem lembro se gostava de você na vida real. Vai que foi só algo que você escreveu?

-Oras, se é assim, eu não sei se gosto de você na vida real também. Pode ser tudo coisa de um texto seu.

-Então porque a gente não fica por aqui, mesmo?

-Por aqui?

-Vem comigo. – E ela puxou o menino pelas mãos e o levou até a escrivaninha. Sentou-se e, com ele em pé ao lado, pegou a caneta e disse – Vamos passear por aí.

E começou a escrever a história de um menino que faz uma declaração para uma menina, que responde com uma história sobre uma menina que escreve um texto sobre uma menina que ama um menino, e então...