(...)E eu sempre gostei de estradas, tem isso. Existe algo em uma
estrada à noite, no prazer de se apoiar a cabeça no vidro de um ônibus e ver
quilômetros e quilômetros de mato passando rápido por você, como num sonho. Nem
uma alma a vista por horas e horas, só o barulho das pessoas dormindo,
levantando para ir ao banheiro, virando páginas de suas revistas velhas. É
poético, é bonito. É besta, eu sei, mas quando eu era criança e eu ia viajar,
eu via aqueles descampados, aquelas florestas escuras, e eu ficava imaginando
como seria se eu saísse do carro naquele momento e começasse a correr em
direção a essa vastidão toda que eu via do outro lado da janela. Simplesmente
correr e me perder naquela paisagem. Ficar ali pra sempre. Eu construiria uma
cabaninha, faria uma fogueira no fim da noite e, sei lá, ficaria ali, sendo
feliz. Às vezes eu ainda penso nessas coisas. Mas, acho que, se eu fosse fazer
isso hoje em dia, levaria uma garrafa de alguma coisa. Whisky, ou até algumas
cervejas. Sabe, só para o caso das coisas ficarem entediantes.(...)
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