A felicidade, diferente de Luis XIV, não é um estado. É uma
condição.
Desconfie de quem fala que é feliz. Ninguém é feliz. As
pessoas são bem humoradas, contentes, aventureiras, otimistas, satisfeitas, mas
não são felizes. Estão felizes, nesse ou naquele momento. É o máximo que se
pode dizer sobre a felicidade (além do fato de ela ser como a pluma, que o
vento vai levando pelo ar. Voa tão leve mas tem a vida breve, blá, blá, blá,
etc e tal).
A felicidade é expectativa e conquista. Não muito diferente
do bem casado de festa de formatura. Você já reparou no bem casado de festa de
formatura? Repare, é um estudo existencialista fenomenal.
Sempre que uma festa de formatura oferece bem casado, os
convidados se transformam. O bem casado, como a guerra e a tequila, transforma
as pessoas. Ninguém mais está ali para celebrar os filhos, os namorados ou os
professores. Todos tem uma missão em comum: conseguir bem casados.
As pessoas vão atrás do garçom. “Opa, da licença, tudo bom?
Hehe. Deixa eu pegar um aqui pra minha esposa também, ela adora.” A esposa do
sujeito morreu faz doze anos. Mas não importa. Vale tudo na hora do bem casado.
Então, recapitulando: felicidade é expectativa e conquista.
Você quer um bem casado. Você vai atrás do garçom, pega um bem casado.BAM.
Felicidade.
A questão é: o bem casado acaba. E você tem que ir atrás de
outro. E outro. E outro. E o tempo entre o fim de um bem casado e o começo de
outro é a expectativa, o trabalho. Até tem felicidade aí no meio, na perspectiva
do próximo bem casado, mas, no geral, esse período entre bem casados é tempo
morto..
E aí você pergunta: e se eu parar de gostar de bem casado?
Bom, aí entram duas coisas: primeiro que não gostar de bem casado é coisa de
gente mau caráter. Segundo que é difícil. É difícil porque bem casado é uma
delícia.
Mas e aí, vamos supor que você consiga. Pronto. Você não
gosta mais de bem casado. O que você faz agora na formatura?
Nada. Você não faz nada. Você alcançou algo muito mais
importante que a felicidade. A plenitude. A plenitude, diferente da felicidade,
não é estado. É condição. Você pode ser pleno para o resto da vida. É só parar
de comer bem casado.
No fundo a vida é isso: uma eterna escolha entre a plenitude
e a felicidade. E, a partir do momento em que você percebe que ela (a vida) é
transitória, não faz sentido se apegar. Não faz sentido se apaixonar pelo que é
finito.
É por isso que a vida em busca da felicidade é sofrimento.
Porque nenhuma felicidade é felicidade mesmo quando vive sob a sombra do fim. Nenhum
bem casado é tão doce quando você sabe que ele vai apagar. Você se apega, se
apaixona, se lambuza no bem casado, mas aí vem a crise existencial: meu deus,
já são quase duas horas. Os garçons já pararam de passar. Os bens casados estão
acabando! E agora?
BAM. Tristeza. Sofrimento. O bem casado só é bom porque é
ruim, e só é ruim porque é bom. Se fosse sempre bom, seria plenitude. Se fosse
sempre ruim, não apaixonaria, e, portanto, não traria sofrimento.
No fim das contas você não precisa parar de gostar de bem
casado. O que você precisa é entender os prós e contras de se viver uma vida a
procura deles ou não. Aí você pode fazer uma escolha sensata, em vez de sair
por aí comendo tudo o que você vê sem parar pra pensar nas consequências.
Ou isso ou você procura a receita de um bem casado infinito.
Se você encontrar, me liga. Pfvr.
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