Ele olhava para o céu, e o céu olhava de volta.
Ele aprendeu a dar nome às estrelas, mas isso foi há muito
tempo. Primeiro as que estavam mais perto, com nomes dos deuses dos antigos.
Júpiter, Vênus e Mercúrio. Depois as que estavam mais longe, mas que, por algum
motivo que ele não entendia quando era novo, brilhavam mais: Alderaban e Antares
e Proxima Centauri.
Ele olhava para o céu, e o céu olhava de volta. Por tanto
tempo dividiram juntos esse espaço de existência, ele e Júpiter e Vênus e
Antares e todas as outras coisas que brilhavam. “Todo esse tempo juntos e eu
ainda não te conheço”, pensou ele, triste. Havia enfrentado tanta coisa, tanto
tempo, tanto, tanto tempo sozinho naquele lugar, sem ninguém nem nada para
fazer, senão contar, contar, contar. Contar todas as coisas que brilham no céu.
O montinho de terra em que se equilibrava andava, girava,
passeava solto. Ou pelo menos era isso que ele achava. Foi triste descobrir que
só estava dando voltas no mesmo lugar. Para sempre, para sempre girando no
mesmo eixo, vendo o mesmo cenário se repetindo, até o fim.
Inventou um monte de nomes. Gravidade, Eletromagnetismo,
Força Fraca, Força Forte, Átomo, Buraco Negro, Neutrinos. Tentando se
aproximar, tentando entender. Mas era como dar apelidos para um amante
platônico. Era como tentar imaginar como pensava, agia e falava uma paixão
colegial que nunca lhe deu bola.
Era estranho. Tudo o que queria era um pouco de afeto, um
pouco de compreensão. Reconhecimento. “Ei! Eu estou aqui, nessa bola azul! Me
perceba! Me perceba! Eu percebo você!”. Estranho que um lugar tão cheio de
sistemas binários e anãs brancas e supernovas possa ser tão frio.
“E você vai continuar aqui”, pensava ele enquanto olhava
para o céu, e o céu olhava de volta. “Eu cheguei, me apresentei, perguntei seu
nome, te olhei de perto, me aproximei, me apaixonei, e daqui a pouco já vou embora.
E você vai continuar aqui, e nem ficou sabendo de mim. Não se deu ao trabalho
de ao menos me mandar calar a boca”.
Ele voltou o rosto para baixo, pronto para deixar o céu em
paz. Sozinho, sempre sozinho naquele vazio. Não adiantava chutar, gritar,
espernear. Mas ele queria ser reconhecido, só isso. Queria ser notado, queria
provar, nem que fosse só para ele mesmo, que existia.
Soltou o graveto e caminhou para longe, deixando para trás
as palavras gravadas na terra: “O ser humano esteve aqui. Aqui ele nasceu,
cresceu, se alimentou, riu e chorou. Sem que ninguém percebesse ele viveu, observou,
se encantou, fez perguntas e morreu. Mas ele esteve aqui”.
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