quarta-feira, 17 de julho de 2013

Tabuleiro

Três, dois, um, rola o dado, vai começar.
Escolhe um pino e um time, escolhe um lado. E começa a jogar.

E você anda quatro casas e para no quadrado. “Meu primeiro amor”. Gira a roleta. Fique uma rodada sem jogar, você está de coração partido, seu amor não foi retribuido.

Passou, joga de novo. Passou a rodada, mas você não. Andou um quadrado, caiu no “Repetiu de Ano”. Volte um quadrado, estude mais. Seus amigos continuaram, os pinos indo pra frente, você ficou pra trás.

Calma, tem mais jogo, continua. Cada passo é um passo. Tem tempo. Puxa uma carta do maço. “Adolescencia”. Ande quatro casas, volte três, fique em dúvidas, grite pros seus pais “a vida é minha”. Fique com o rosto cheio de espinha. Ande mais vinte casas. Volte quarenta. Seus amigos já deram beijo na boca, você nem tenta. Na festa todo mundo dança, você senta.

Rola o dado, anda, parou em outra casa? “Vestibular”. Fique três rodadas sem jogar. Alias, levanta da mesa, joga o tabuleiro longe e vai estudar.

Passou! Ande dez casas e vá para a Faculdade. Role o dado dez vezes: Uma pelas namoradas, uma pelas provas, duas pelas festas e as baladas, três pelos amigos, mais uma por alguns corações partidos, uma para o fim de toda essa loucura, a última pela formatura.

Parabéns! Você caiu no “primeiro emprego”! Na segunda-feira vê se chega no horário. Role o dado, se der quatro e meio você vai receber um bom salário.
Anda de novo, dessa vez de carro! É um ponto zero e não engata direito a ré, mas é melhor que andar a pé.

Jackpot! “Casamento”. Parabéns! Junte os dois pinos na mesma casa (alugada), volte trinta para pagar a festa e na Lua de Mel você gasta o que resta.

Puxa outra carta do baralho, com cuidado. Você fez quarenta anos! Ganhou dois filhos e um emprego mais bem remunerado.
Jogada bonus! Você ainda não ficou careca, as calças largas precisam de um cinto e seu cabelo branco te deu um ar distinto.

Rola o dado, mais um pouco. Mais idade, aposentadoria. Seu casamento ainda é feliz, quem diria! Você encontra os pinos divorciados para uns petiscos e bebida, e descobre que até que não ta ruim a sua vida.
Joga mais um pouco, devagar, que a mão ta fraca, se forçar muito ela empaca, e aí...


E aí quer saber? E aí você descobre que era só um jogo o tempo inteiro. Só uns pinos em cima de um tabuleiro. E pro diabo com as regras, ande pra trás, pra frente, jogue o tabuleiro pro alto, seja incauto. Quebre a ampulheta, pise em cima da roleta, faz da vida o que quiser, desde que inclua diversão. Esse jogo ta no armário faz um tempão, e ninguém ainda aprendeu a jogar direito, da sempre confusão. E quer saber? Desconfio que nem vem com manual de instrução.

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