Teve a Soraia, que cansou do marido falando no escritório e
na vaga que abriu na direção e foi correr na praia, pensando nas crianças e na
separação.
E cruzou com o Matias, que perdeu a namorada e resolveu se
matar. Foi de roupa e tudo pra dentro do mar, e só depois lembrou que sabia
nadar. Voltou pra casa desolado, esperando o jantar.
No caminho, trombou com a Tina, que ouvia da mãe no celular
“Vê se casa logo, menina” e tirava moeda da carteira fina pra entregar pro seu
Horacio, que dormia na esquina.
O seu Horacio, por sinal, era jogador profissional, jogou no
Atlético e no Blumenau, mas não era muito bom de bola. Pendurou a chuteira e
acabou pedindo esmola.
Com o troco da moça, foi buscar um salgado ali na padaria do
lado. Pediu pro Ismael, que só saia de casa de chapéu, ninguém sabia o porquê.
Ele não revela pra ninguém, mas que vergonha também! Aí do
seu Ismael se a dona Zezeca, que compra sempre um pão de queijo no caminho da
loteca, descobre a sua careca.
Por falar em pão de queijo, quem veio de Minas pra São Paulo
foi a Zuzu, pronta pra estudar. Era meio burra, não passou no vestibular.
Acabou que casou com um professor de física, e, você vê, não entende nada dos
livros que ele lê, mas acha tão bonito essa coisa do marido estudar o
infinito...
Toda sexta, vai as compras com a Rita, que não anda muito
bem. Mas também! Seu marido, logo o Doutor Andrada,que parecia gente muito
fina, largou tudo pra morar com uma bailarina, e hoje vive rindo à toa.
A Rita não sabe, mas o sorriso às vezes mente. O Andrada até
parece bem de vida, mas gostava cada vez mais da bebida do fim do expediente.
E não aguenta mais Tchaikovsky.
Por falar em Tchaikovsky, sabia que ele vivia deprimido?
Nunca achou nada que rimasse com seu nome.
Pra quem procura inspiração, basta olhar em volta. O
dia-a-dia dispensa imaginação.
Né não?
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