Existe uma linha tênue entre a genialidade e a loucura. É verdade.
Existe uma linha, bem definida desta vez, entre o louco gênio, o louco que quer ser gênio e o que não é nenhum dos dois, mas insinua-se ora como uma coisa, ora como outra.
A genialidade não justifica a loucura, apenas a consola. Os que buscam consolo para a própria loucura numa inexistente genialidade esquecem que loucos podem não ser gênios, mas gênios sempre serão loucos. Mas a loucura carrega consigo um peso, dentro da sua própria leveza (Kundera, meu amor), e os loucos que não são gênios vasculham e vasculham dentro de suas mentes em busca de traços de uma genialidade que ajude-os a carregar essa insustentável leveza (perdão, Kundera, perdão) e, quando não a encontram, emulam esta e tentam exalar um ar de genialidade ao redor, para que o mundo inteiro suspire aliviado e perdoe suas loucuras.
E, claro, tem os que não são uma coisa nem outra, mas aspiram ser os dois. É que o louco gênio, visto de longe, é sensual. É erótico, apaixonante, um exemplo a ser seguido. Só os loucos entendem o horror de ser louco. O são aspira ser louco porque nunca o foi. E o louco, secretamente, sonha em ser são.
Mas o louco gênio não troca sua loucura. Ele odeia sua loucura, mas sabe que ela está terrível e irremediavelmente atrelada a sua genialidade. Um abraço eterno, imutável. E, por ter nascido louco e gênio, ele se agarra a toda aquela genialidade que tira o peso da loucura, e aquilo define tudo que faz sua vida valer a pena. Se não for mais louco, não precisa mais ser gênio, mas, de tanto que foi louco, se não for mais gênio, não sabe mais ser ninguém.
E assim, numa espiral de loucura e genialidade, vivem todos aqueles que conseguem fazer aquilo que os faz loucos e gênios, que afasta a sanidade e a mediocridade: ver o mundo de fora. Como um extraterrestre. Como Deus. Como Gênio. Como Louco. Como Nós.
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