-Papai, olha a casinha que eu fiz com Lego!
-Que bonita filha. Mas que pena, um dia ela deixar de
existir, e você também, e todo o universo também. Tudo é transitório, minha
filha, não faz sentido construir nada. Vai, desmonta a casinha, apesar de
que... Agora nem faz diferença. O próprio ato de desmontar a casinha já
constitui em si uma ação, uma tentativa de moldar o universo através da
escolha. E, como a gente sabe, não existe escolha, né? É a coisa da ilusão do
livre arbítrio. Então destrói ou não, não faz diferença, filhota. O importante
é você não se apegar a casinha, entendeu? Porque, assim como a sua vida, a do papai
e a da mamãe, ela é transitória, e um dia vai morrer. E quando a gente se apega
aquilo que morre, acontece o que? Isso mesmo, a gente sofre. Que foi?
A Clarinha já subia as escadas pro quarto, abrindo o
berreiro, quando a dona Odete reclamou – Puta que o pariu, Zé Carlos. – antes de
ir atrás da filha.
Mas o Zé Carlos tinha virado zen, e queria mais é que tudo
se fodesse.
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