Oito Minutos
O
sol apagou, e daqui a oito minutos a Terra vai perceber. Mas ninguém
avisou a Tereza, que passou a manhã inteira arrumando a mesa e cortando
batata pra fritar, porque os netinhos estavam a caminho pra almoçar.
Agora que o sol apagou pra nunca mais voltar, em oito minutos a Terra
vai parar de girar. E coitado do Tobias, que não sabia disso, hoje mais
cedo, quando fazia o vestibular. Caiu na questão vinte e oito alguma
coisa sobre velocidade, e ele chutou que a da luz era mais rápida que a
da gravidade. Não vai entrar na faculdade.
Agora que a Terra
vai acabar, o Orestes não precisava nem se preocupar em furar a fila do
mercado. E, olha só que bom, ele não sabe ainda, coitado, mas em sete
minutos o banco vai esquecer do carro com o pagamento atrasado.
A tia Elvira anda meio cabisbaixa, cansada de trabalhar no caixa,
passando de um lado pro outro, sem nem parar pra pensar, um monte de
coisa do mercado que ela não tem dinheiro pra pagar. Quando deu duas e
meia, passou no banheiro, jogou água no rosto, se viu no espelho com
cara de desgosto e se achou meio feia. “O dia continua, e amanhã vem
mais um” pensou, olhando pela janela, e a luz do sol finado só brilhava
lá de fora, fingindo que não era com ela.
O Cruzeiro jogava com
o Atlético, na final do campeonato, enchendo o Mineirão. O jogo começou
meio lento, mas aos vinte do segundo tempo teve gol de cabeça do
Fabião. Já dava o sexto minuto do começo do final quando a torcida se
juntou feito coral e já gritava é campeão.
No sétimo minuto e
meio (quando até o goleiro do Cruzeiro foi pra área tentar o escanteio)
um menino corria pela praia, assoprando bola de sabão. Olhou pra frente e
viu o mar, se jogou na areia pra ver onda arrebentar. Sete e cinquenta e
três fechou os olhos pra bocejar. Pensou, sete e cinquenta e sete, se a
mãe ia pedir pizza pra jantar.
Tomara que sim.
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