Que bom te ver de novo, meu grande amor. E você também,
hein? Escolheu logo esse ano, esse dia e esse lugar pra gente se encontrar. Ah,
você ta rindo, achei que não ia lembrar, do dia em que veio me abraçar, naquela
tarde meio esquisita e fria, eu não lembro mais o que eu fazia, sei que você me
abraçou e disse que não podia, não podia, não podia me largar. Da pra
acreditar? Foi hoje que a gente começou a namorar.
Olhando aqui em volta é fácil duvidar que tanto tempo passou...
Ainda vai passar. Não sei conjugar verbo na memória, tenta me ajudar: passarala-ia?
Ah, deixa pra lá.
E como será que você tá, lá no presente, bem longe da gente
aqui? Eu virei engenheiro, trabalho o dia inteiro. Estranho trabalhar. Você
fica o dia inteiro fazendo um monte de coisas e recebe dinheiro, e gasta em um
monte de coisas e depois trabalha e ganha mais. E é isso aí. Não entendo
direito também, mas todo mundo faz...
Mas eu já mudei de assunto, ando muito desligado. Não faz
essa cara não, que foi? Eu sei, sempre fui, sempre vou ser, ainda sou... Foi um
dos motivos pelos quais a gente terminou... Mas isso ta lá na frente, bem longe
de acontecer, tenta esquecer, pensar em outra coisa mais legal. Como ta sua
vida depois do colegial?
Se formou, afinal? Casou, teve filhos, separou? Não me olha
assim, eu quero saber, poxa... Não é tristeza, é nostalgia, desse tempo nosso
de alegria aqui em volta. É por isso que eu relembro, todo dia, dessa tarde de
Dezembro que passou.
Olha ali! Do lado da sorveteria, a barraquinha de bijuteria!
Você falou que não queria, mas eu fui lá e comprei o anel mais ridículo que
achei, voltei, te entreguei e te falei...Não lembro o que eu falei, faz tanto
tempo...Mas lembro que você respondeu “eu gostei!” antes de virar e falar “agora
você vai ter que me aguentar...pra sempre.”
Podia ter sido, né? Pra sempre... Hoje, por exemplo, aqui,
nesse dia nosso que passou. Porque a gente não ficou? Ficou pra sempre nesse
dia? Mas não, o tempo teve que passar. O tempo enche o saco, né? Se eu pudesse,
faria um Best of dos 10 melhores dias da minha vida e viveria eles em loop. Não
em memória, como aqui, mas pra valer. Podia acontecer...
Enfim, eu tenho que voltar. O que? É, eu sei, eu sei, e você
tem que ficar. Enfim, cuida bem das memórias aí, ok? Do barraquinha do anel,
desse clima meio esquisito e frio, não quero perder nada disso. E cuida bem de
você, também! Cada vez que eu volto você parece mais apagada, diferente, mudada
e meio nublada. Não me deixa eu te esquecer (olha que frase estranha que essa
coisa de memória faz aparecer), ok? Vou lá, preciso voltar pro escritório, já
acabou minha hora de almoço. Tenta não sumir muito mais, da próxima vez que eu
passar pra te ver, pode ser?
Beijo, querida!
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