O Trem da Meia Noite
Um dia eu vou acordar no trem da meia noite, longe de tudo.
E eu vou andar pelos corredores e ver as pessoas, e todo mundo vai estar dormindo e eu vou ouvir o ruído abafado do trem cortando a madrugada.
E vou inventar uma história para cada figura que eu passar. O velho sozinho é um poeta louco caído em desgraça. O casal abraçado foge da família para casar em segredo.
E eu vou olhar pela janela, e vou ver neve. E pequenas casinhas com uma ou duas luzes amarelas acessas vão passar zunindo, e eu vou me perguntar quem mora ali, e vou achar tudo isso muito bonito.
Vou chegar no vagão-restaurante, e ele vai estar fechado. E eu vou passar pelas mesas vazias e ouvir o tilintar dos pratos e copos balançando com o trem, e vou achar isso bem bonito também.
E eu vou sentar no balcão do bar e fingir que falo com um barman britânico e misterioso, e vou pedir um Martini com uma voz ridícula.
E então eu vou levantar e começar meu caminho de volta. E vai ser bem tarde já, um pouco antes do amanhecer, mas bem escuro também. E eu vou sentir como se o mundo inteiro fosse o quarto de um menino entediado, e o trem que me leva pra longe circula entre a cama e a televisão e a porta, dando a volta no quarto do garoto-Deus que colocou a gente aqui e falou que ia ser bom.
Vou reparar nas pessoas na volta também, a maioria vai estar dormindo, mas algumas vão começar a acordar junto com os primeiros raios de sol, que atravessam as janelas de vidro em pequenos mosaicos formados pelos pinheiros que cercam os trilhos lá fora.
E eu vou chegar de volta ao meu lugar, abrir a cortina e olhar o chão branco de neve passando rápido e me ver refletido na janela, com um olhar bem diferente do que eu tenho hoje. E isso vai ser legal. Vai ser bonito. E o sol vai nascer e o dia vai começar. E eu nem vou lembrar direito para onde me leva esse trem. E eu acho que isso eu vou achar mais bonito e legal do que tudo.
É. Um dia eu vou acordar no trem da meia noite.
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