Ao poeta perguntaram: Porque você escreve?
Escrevo – Disse o poeta – Porque tentei trabalhar, e trabalhar não pude. Escrevo porque tentei respirar, e respirar não pude. Escrevo, meu colega, porque não sei não escrever. E tentei. Ah, como tentei. Mas dessas outras coisas da vida, nada sei. Nada sei de viver. Nada sei de sofrer. Nunca aprendi a sonhar, nunca aprendi a esquecer. Nunca aprendi a calar, não sei como viver. Amigo, meu querido amigo, eu escrevo porque, de todas as coisas da vida, de todas as coisas para se ver e se fazer, só sei mesmo é escrever.
E ao musico indagaram: Pra que servem estas notas?
Essas notas – Respondeu o musico – só me atrasam a vida. Desde menino me acompanham, aonde quer que eu vá. Essas notas que me seguem, comigo nasceram. Como queria, ah como queria, delas me livrar. Por uma vez não escutar, aonde quer que eu vá, essa musica a soar, em cada rua barulhenta, em cada uivo de cachorro, em cada pássaro a voar. Mas não foi me dada escolha, não posso escolher. Vivo para ouvir, não vivo por viver. E não conheço outra vida, senão a vida de musica e harmonia. De compasso e melodia. E tenho medo de descobrir, qualquer noite ou qualquer dia, que uma vida sem musica e sem notas, essa vida que eu queria, é cinza e é triste, sem amor ou alegria. Uma vida sem prazer, sem sofrer? Não. Fico com minha amarga sinfonia.
E perguntaram ao pintor: E os quadros e pinturas?
Esses quadros – Começou o pintor – São essenciais, e de utilidade infinitamente maior que qualquer nota, que qualquer palavra. Ah, meus quadros não são arte, não são feitos para os outros. Nesses quadros guardo quem eu sou, quando me perco na minha mente e transbordo e vou, vou, vou pra longe de mim mesmo. Guardo nesses quadros aquilo que não cabe mais no coração. Que escapa do desejo, que foge da paixão. Guardo nesses quadros toda e qualquer ilusão, desde que louca demais para ensejar a realidade. De verdade. Não, não faço arte. Meus quadros são tão meus quanto minha mente, minha alma e meu braço. Fazem parte, fazem parte.
“Pra que servem, então, as notas, as palavras, as pinturas? Pra que serve essa arte?” É o coro do mundo revoltado, voltando-se contra as almas perdidas desta vida, que escrevem, que pintam e que tocam justamente porque não sabem mais o que fazer, o que dizer. Justamente porque não tem pra onde ir senão para dentro de si mesmos, ou porque já foram para todos os lugares, ou porque não podem ir a nenhum. A arte existe como fim de si mesmo, como meio de seu fim e como começo de seu meio. A arte existe como forma de expressão daquilo que não pode ser expressado sem arte, ou porque é profundamente complexo, ou porque é ridiculamente simples.
A arte existe.
a arte, de se afogar nela para desafogar-se! o ridicularmente simples que é tão complexo de se enxergar. esse ultimo parágrafo é muito bom
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